Yordenis Ugás pode ter sido o último adversário de Pacquiao
Jorge Luiz Tourinho
22 de agosto de 2021
Uma noite emotiva na T-Mobile Arena em Las Vegas, EUA. Aos 42 anos, Emmanuel Manny Pacquiao (62-8-2) acabou derrotado em decisão unânime pelo excelente boxeador cubano Yordenis Ugás (27-4). Estava em jogo o título super da Associação Mundial de Boxe (AMB) dos meio-médios que não mudou de mãos.
Mesmo sendo o desafiante o único ex-campeão mundial em oito divisões foi anunciado por último. Uma deferência a mais para uma lenda viva que se apresentou depois de dois anos. Rico e realizado o maior ídolo das Filipinas não precisava mostrar nada a ninguém. Creio que a sua ideia era se retirar após um embate com Errol Spence Jr para tentar sair dos ringues como o melhor peso welter do momento. Uma lesão em um dos olhos impediu a luta e pode ter abreviado a carreira do também extraordinário Spence Jr.
Para salvar o evento milionário do Premier Boxing Champions (PBC), Ugás foi convidado e realocado para fazer a luta principal. Dinheiro não foi problema. Se o PacMan pode ter abiscoitado até US$ 25 milhões, devem ter caído na conta do caribenho, pelo menos, cerca de US$ 2 milhões. O favoritismo de Pacquiao era algo baseado naquilo que ele havia apresentado em diversas ocasiões mas havia muita dúvida quanto à sua forma. O tempo cobra e, aos 42 anos e dois anos parado era uma incógnita.
Yordenis veio com um plano e dele não abriu mão. Ganhando e perdendo assaltos foi com ele até o final. Com muito mais altura e envergadura, nem se preocupou em caminhar para a sua esquerda. Manteve a longa distância com jabs duros seguidos de diretos de direita e alguns golpes curvos quando possível. Socos retos na cintura também fizeram parte do cardápio. E assim foi levando fechado para não receber as cargas do desafiante que se aproximava com alguma velocidade.
Mais uma vez foi muito feliz o excelente comentarista da ESPN Brasil, Eduardo Ohata. Pacquiao já não se movimentava para os lados criando ângulos e abrindo espaço para castigar. Estávamos diante de um dos grandes mas já em decadência. Se nunca esteve perto de ser derrubado, jamais mostrou que triunfaria pela via do sono.
Os rounds foram se sucedendo com alternância do domínio. Cotejo de difícil marcação, teve, ao meu ver, quatro tempos que poderiam ser vistos para qualquer lado. A decisão saiu com: 115-113 e 116-112 (2). Eduardo Ohata e eu apontamos 114-114.
Sinceramente, é hora para Manny se aposentar e se dedicar à política e à sua fundação que tantos compatriotas ajuda. Ugás conquistou um lugar de destaque e o mundo do Boxe quer vê-lo com Terence Crawford em outra super luta.
Narradores e comentaristas vão se pronunciando durante as transmissões. Nós, telespectadores, vamos concordando ou não. Contudo, uma frase do locutor Hugo Botelho, dita quando os boxeadores já estavam no quadrilátero e ouvíamos a "Eye Of The Tiger" do grupo Survivor, emocionou o velho jornalista cego de um olho: "Ambos são sobreviventes. Graças ao Boxe!".
Mais vale esse tipo de explicação do que combater os coleguinhas de imprensa que disseram que o mundo seria melhor se não houvesse o Boxe. O esporte aparta do vício, do ócio e do crime. O Boxe tem várias histórias, emocionantes, de superação através dele. O Boxe melhora o universo!
Preliminares exibidas na noite de 21 de agosto.
Meio-médios - Robert Guerrero (37-6-1) W10 Victor Ortiz (32-7-3).
Combate de dificílima marcação. Foi jogado no infight pelos dez tempos. Muita energia foi gasta pelos dois veteranos que voltavam. Trocas de golpes intensas no corpo-a-corpo não são as preferidas do público norte-americano nem do locutor Botelho.
Os melhores momentos de Guerrero foram quando se distanciou um pouco. Não conseguiu fazer Ortiz ficar longe e a decisão foi unânime. Os três juízes deram 96-94. O comentarista Ohata marcou 95-95 e eu vi Ortiz vencer por 96-94.
Título Continental das Américas WBC pena - Carlos Castro (27-0) TKO10 Oscar Escandón (26-6).
Excelente cotejo! Muita intensidade e busca pela vitória por todo o tempo. Eis aí como se devem apresentar candidatos a qualquer cinturão.
Castro quase caiu no final do capítulo inicial e passou a boxear o aguerrido colombiano para construir vantagem a partir do segundo episódio. Escandón vinha atrás nas papeletas e buscava a definição quando um belo contragolpe quase o derrubou no nono assalto. Já sentido foi cercado e derrubado no décimo. Preferiu o mediador declarar o nocaute técnico para evitar maior e desnecessário castigo. O vencedor se qualificou para disputa de cinto mundial com qualquer um.
Foto: Premier Boxing Champions