Vitória retumbante de Tyson Fury no evento da Década

26/04/2022
Jorge Luiz Tourinho

25 de abril de 2022

Talvez tenha sido o maior programa de Boxe para muitos como eu. Só me recordo da luta entre Julio Cesar Chávez contra Greg Haugen em 1993 no Estádio Azteca da Cidade do México como capaz de rivalizar com o evento da Queensberry Promotions. Um teve maior público – cerca de 130 mil pessoas – mas o outro teve mais grandiosidade. A começar pelo palco, o Wembley Stadium de Londres. Reservado para grandes espetáculos, teve uma programação muito bem cuidada e cheia de som e imagens. Coisa que não houve no Novo Mundo.

No lado esportivo, estava o mais carismático boxeador de atualidade. Um gigantesco peso pesado que sabe boxear e brigar, que pega e aguenta pancada. Assim como o lendário Chávez, era o franco favorito. E como o maior mexicano da história até aqui, Tyson Fury (32-0-1) tomou conta do ringue e venceu todos os cinco assaltos pontuados. Em nenhum momento passou aperto. Nem mesmo quando recebeu um gancho de esquerda no corpo se abalou.

Parecia um artista de cinema com suas roupas talhadas com tecidos exclusivos. As fanfarronices serviram para motivar a imprensa e o público já que poucos acreditavam que Dillian Whyte (28-3) desceria do quadrilátero como campeão do Conselho Mundial de Boxe (CMB). O fato é que Fury foi cuidadoso para evitar uma bomba que o pudesse derrubar, mas consistente na forma de jogar na longa distância. Clinchou quando achou necessário para tirar o ímpeto de um confuso desafiante.

Para mim, Tyson venceu os cinco rounds marcados. Inclusive aquele no qual houve o choque de cabeças, o quarto, e a catimba de Whyte. No começo do sexto tempo um uppercat de direita levou Dillian à lona e a queda evoluiu para o TKO. Festa prevista pela família e pelo entorno do grande peso pesado da atualidade. Quem poderá vencê-lo? Usyk?

 

Por outro lado, concordo com o comentarista e ídolo Servílio de Oliveira. Whyte decepcionou quando nada fez para mostrar que queria o cinturão. Entrou na maioridade se recuperando de três facadas e dois tiros. Foi salvo da marginalidade pelo Kickboxing. Depois de ter o nome no cenário britânico, migrou para o Boxe e fez a carreira que o levou a essa disputa. Contudo, não basta ter ovos gigantes para enfrentar o Rei Cigano. Um aspirante ao mais badalado título do pugilismo tem que ter estratégia, plano de luta e ações muito bem treinadas para buscar a vitória. Whyte não soube como se aproximar do gigante de Manchester e não teve velocidade na movimentação para, pelo menos, revezar no domínio do combate.

Pelo que exibiu, Dillian foi bem pago. Sua bolsa estimada em 6 milhões de libras esterlinas está de bom tamanho, apesar dele achar pouco... Fury abiscoitou cerca de 24 milhões de libras. Tomara que esses valores não os levem para a aposentadoria. Frank Warren e seu sócio Top Ranking querem agora outro mega evento com o vencedor de Oleksandr Usyk e Anthony Joshua.

Preliminares em Wembley exibidas pela FOX.

Entre meios pesados, Tommy Fury (8-0) triunfou com clareza e categoria sobre Daniel Bociansky (10-2). Mostrou qualidades o irmão do famoso Fury. Conseguiu uma queda no quinto capítulo. O perdedor se esforçou, mas não foi páreo para o atleta da Queensberry. O árbitro-juiz Kieran McCann marcou 60-54. O extraordinário comentarista Eduardo Ohata e eu pontuamos 60-53 e Servílio de Oliveira anotou 59-55. Claro está que Tommy tem longa estrada a percorrer até chegar a disputar algum cinto importante.

Nos meio-médios houve a disputa das faixas Britãnica, da Federação Internacional de Boxe (FIB) intercontinental ou coisa parecida e da Comunidade Britânica – creio eu. Confronto duríssimo com alternativas que se mostrou de difícil marcação. Muitos episódios tiveram vencedor por curtíssima margem. Ekow Essuman (17-0) venceu em 12 ao desafiante Darren Tetley (21-3). Somente a partir do sétimo assalto foi que o campeão pontificou. Seu excelente preparo físico ajudou bastante. Tetley começou bem, mas foi perdendo a velocidade na movimentação e, não sendo pegador, não encontrou a mão salvadora.

Decisão unânime. 117-111 (o que marcou Ohata) e 116-112 (2). Servílio pontuou 116-113 e eu 118-110. Essa divisão é a que reinam Terence Crawford e Errol Spence Jr. Dura escalada para o bom Essuman.


Foto: Esporte  News Mundo