Um Telecatch remodelado
Jorge Luiz Tourinho
25 de Fevereiro de 2024
Era um menino bem pequeno quando assistia extasiado na TV um programa de "lutas" chamado Telecatch. Na inocência da infância, pensava que aquilo era real. Que eram combates de verdade entre lutadores que representavam o bem contra aqueles sujos que personificavam o mal.
Ainda recordo daqueles ídolos de mentira. E dos golpes que eram aplicados. Os leitores da minha idade deverão lembrar das tesouras voadoras do recentemente falecido Ted Boy Marino, a maior estrela da companhia. E das braçadas do Índio Paraguaio. As cuteladas do Verdugo quase que paralisavam a garotada. Na rua, meus colegas diziam que: - "...é Karatê! Essas cuteladas podem até matar!!!".
Não havia rede social. Era através do comportamento que os atores se alinhavam como mocinhos ou bandidos. Esses faziam uso de golpes proibidos ou ilegais e desrespeitavam os árbitros. Aqueles, ao contrário, atuavam dentro do regulamento e com disciplina. Os vilões dos quais guardo lembrança são: Rasputin Barba Vermelha e Achiles, "O Matador". Para justificar seu apelido, Achiles tirava sangue de alguns oponentes mordendo-os na testa e socando essa região em seguida.
O último programa que assisti foi um no qual Rasputin quase virou heroi. De odiado passou a amado quando quase tirou a máscara do Verdugo. Porém, o script tinha o triunfo do mascarado por uma suposta cutelada demolidora.
O vitorioso esquema dos anos 60 foi repaginado para fazer verdadeiras fortunas. Conta com a presença do segundo maior boxeador brasileiro da história. A verborragia via redes sociais e imprensa (pela WEB) substituiu os representantes do bem e do mal por aquele com o qual o espectador simpatiza ou antipatiza. Uma forma chula do "nós contra eles".
Nesses eventos, são jogados dentro de um ringue personalidades que podem ser artistas, YouTubers ou influenciadores digitais. Suas redes de milhões de pessoas alimentam a arrecadação milionária. A maior estrela é o ex-campeão mundial cuja presença garante a multidão que acompanha as apresentações e os patrocinadores que deixam na conta bancária dele quantias que vão de quatro a seis milhões de reais por "luta".
O televisamento por canal por assinatura importantíssimo não transforma a fantasia em realidade. Inclusive, tiraram do Telecatch o confronto entre duplas! Beirou o ridículo fingir que dois lutadores boxeariam contra outros dois no mesmo tempo!
Existem promotores para esse tipo de entretenimento que entra fácil na grade das TV, mas não se aventuram em fazer Boxe de verdade. As redes que brigam pelos direitos de transmissão do Telecatch remodelado não passam os poucos eventos realizados no Brasil.
Pagam fortunas para aventureiros. Porquê não promover o Boxe? Abaixo, vou relacionar uma série de lutadores que poderiam ser contratados para que se reviva os tempos da Bandeirantes.
O melhor peso pesado é Igor Adiel Macedo da Silva (12-1). Lutou a última vez em 30 de setembro passado quando foi à Inglaterra e surpreendeu o inglês Jeamie Tshikeva .
O cruzador Lucas Pontes da Silva (7-1) por falta de oportunidades aceitou a oferta para encarar uma fera nos EUA e perdeu a invencibilidade para alguém que está sendo preparado para título mundial. Como seu pai apareceu nas fotos, pode ser que consiga os contatos para fazer eventos regulares para ele.
O meio-pesado Matheus da Silva (8-1), a "Locomotiva Mogiana", não se apresenta desde que perdeu na Argentina para Durval Palácios. Foi no dia 26 de maio de 2023.
Os irmãos Yamaguchi (24-2-1) e Esquiva Falcão (30-1), depois de fracas atuações por cinturões mundiais tiveram seus contratos terminados. São excelentes nomes para eventos. Yamaguchi lutou pela última vez contra David Morrell Jr em 22 de abril de 2023. Esquiva em 1 de julho de 2023 quando perdeu para Vincenzo Gualtieri.
O ex-campeão WBO Patrick Teixeira (33-4) e Klinsman Simão (6-0) são excelentes médios ligeiros para se promover.
O bom super leve Paulo Cesar Galdino (13-8-2) se vê obrigado a aceitar os chamados para lutar nos EUA. Praticamente, por falta de opção, está sendo um testador de promessas americanas.
O leve Jonhatan Cardoso (16-1) radicou-se nos EUA para dar sequência a sua carreira. A revelação de 2022, o super mosca Andrés Gregório (10-0-1) viajou para o México em busca de mais combates. Depois de um empate, fez outra luta em Guarulhos em 25 de novembro do ano passado contra um estreante. Ele não tem rivais no Brasil. Com o dólar a cinco reais, somente uma empresa com algum capital consegue adversário do nível dele.
Outra decepção foi um árbitro do CNB presente. Um mediador já consagrado por fazer títulos nacionais e continentais. Como se ali estivesse para validar aquilo como se fosse Boxe.
Que saudade de Luiz Boselli e Newton Campos!!!