Um breve relato de minha trajetória

21/12/2022

Por Norberto Resende
21 de dezembro de 2022


Comecei a treinar boxe em 1955, em uma Academia que ficava próxima ao IAPI, no final da rua Itapecerica, em um clube chamado Terrestre. Seu técnico tinha vindo do Paraná e era conhecido como Jack, alusão ao ex-campeão mundial pesos pesados Jack Dempsey.


Através dessa Academia comecei a lutar em circos muito modestos da periferia. Eu não sabia com quem iria lutar nem quem seria o meu segundo. Uma vez levei o meu tio, que nunca tinha visto uma luta de boxe, para calçar minhas luvas. Ele gostava é de briga de galo (foi antes do Jânio Quadros). Não perdi uma única luta.

Depois me transferi para a Academia de Boxe do Geraldo da Silva, ex-pugilista profissional, contemporâneo do meu pai. Eu tinha de tomar 2 bondes, pois a Academia ficava no bairro Santo André, bem distante. Após alguns meses o húngaro, Anton Schober, campeão de luta greco romana, mas apaixonado pelo boxe, montou uma Academia próximo à Praça Raul Soares e eu fui treinar lá.

Depois de alguns meses, lancei um desafio ao meu primeiro técnico, Jack, que dizia ter sido campeão do Paraná. Ele apresentou um pugilista que se chamava Tcheco para lutar comigo e eu aceitei numa boa. Nunca tinha visto falar nesse boxeur. Quando meu pai soube dessa luta, me proibiu de encarar o Tcheco, pois já o tinha visto uma vez e ele era profissional, muito superior a mim, que estava no início de minha carreira. Pouco tempo depois o Tcheco morreu assassinado e eu não cheguei a conhece-lo.

Quando os Empresários do Boxe, famosos, principalmente no Rio de Janeiro, Renato Pacote e Teti Alfonso assumiram o comando do boxe mineiro, sua ascensão foi espetacular. Primeiro eles fizeram vários Programas de Boxe nos principais locais de Belo Horizonte, como a Praça Rio Branco e a Praça Raul Soares, despertando o boxe nos mineiros. Eu participei e ganhei todas as lutas, inclusive o Torneio Geraldo Starling, cuja medalha de ouro eu guardo até hoje.

Renato Pacote (falecido) e Teti Alfonso assinaram um contrato com a TV ITACOLOMI, para transmitir todas às quartas feiras, uma noitada de boxe e anunciaram como seria a programação. Eu estava escalado para fazer a luta final com um pugilista carioca, mas não me lembro seu nome. Só sei que eu fui vitorioso. Durante quase 10 anos de TV ITACOLOMI, só fiz a luta final e invicto.

No Rio de Janeiro, onde o boxe era bem superior ao de Minas Gerais, a TV RIO transmitia suas lutas aos domingos. Eu participei de, pelo menos, 15 lutas. Em São Paulo, a nata do boxe, as lutas de profissionais aconteciam às sextas feiras. Só na categoria dos pesos leves eu me lembro do Kaled Curi (Beduino), Pedro Galasso (Piranha), Sebastião Ladislau (Gibi), Sebastião Nascimento, Romeu Barbosa, que lutou em Corumbá (Mato Grosso) e outros. Foi a era do maior pugilista brasileiro de todos os tempos, o nosso campeoníssimo Eder Jofre. Do Luizão, meio pesado, do meu ídolo Paulo de Jesus, Fernando Barreto e muitos outros.      

Após mais de 50 anos sem ter notícias do Teti Alfonso, liguei para ele (por telefone, cujo número me foi dado pelo Paulo Roberto Godinho). Uma pessoa com a voz de jovem atendeu ao telefone e perguntou quem queria falar com o Teti Alfonso. Eu respondi que era de Belo Horizonte, mas ele não iria se lembrar e falei o meu nome. Ele reconheceu na hora e batemos aquele papo!Obs. Meu pai, Kid Raphael, foi o meu técnico de boxe em todas as lutas que realizei na TV ITACOLOMI, durante quase 10 anos.


Imagem: Superesportes