UM ARGENTINO CHAMADO GREGORIO “GOYO” PERALTA

16 de abril de 2019
Prof. Paulo Roberto Godinho
Se não me falha a memória, andávamos por Abril ou Maio de 1959, eu estreara no programa O Céu é o Limite no dia 3 de Março daquele ano, e, na impossibilidade determinada pela TV Tupy/RJ, não pude entrar no Campeonato de estreantes da FMP daquele ano, eu treinava regularmente no Grêmio Cassio Muniz (rua do Rezende, no Centro do RJ).
Numa daquelas tardes surgiu no ginásio um lutador argentino que o Téti Alfonso trouxera para lutar no Brasil, um meio pesado de nome Gregorio Peralta. Não sei onde ele estava hospedado, possivelmente num sobrado da rua da Lapa, próximo aos Arcos, onde no andar térreo funcionava um restaurante do pai do Téti. Lembro-me que o Tercio de Lima ficava lá no sobrado, secretariando o que se chamava "Empresa Brasileira de Espetáculos", do Téti e do Renato Pacote).
Peralta chegou no salão do Cassio Muniz e, mostrou-se muito simpático, mas a maioria dos lutadores de lá, não lhe davam muita atenção. Senti isso e me adiantei em ajudar o argentino na sua estada no RJ. Lembro-me que ninguém queria treinar com ele, que era educadíssimo e simpático. Mesmo sendo um peso leve, eu me prontificava em fazer sombras de luvas com o "Hermano", e foi tal a minha desenvoltura diante dele, que das sombras, passamos a fazer luvas . Mesmo mais alto e mais pesado, "Goyo" tinha muita dificuldade de me achar, e isso para ele caiu muito bem. Era o que ele necessitava, exercício, diante de um sparing veloz, rapidíssimo de pernas, que o obrigava a mudar sempre o seu "itinerário" dentro do ringue.
Não sei o por que, mas Gregorio Peralta permaneceu lá no Cassio Muniz por mais de um mês, até que eu soube que ele lutaria na TV Rio contra o Luizão (Luiz Inácio da Silva), campeão brasileiro dos meio-pesados, um pupilo do Aristides "Kid" Jofre, que chegara a fazer uma "luta" contra o campeão mundial Archie Moore, quando este notável lutador andou a passeio com sua família por São Paulo . Apesar de constar como luta nos cartéis de Moore e de Luizão, o "Velho Mongol" estava em São Paulo a passeio, e "gentilmente" permitiu que o brasileiro perdesse aos pontos. Luizão ganhou fama quando ganhou o título sul-americano do uruguaio Dogomar Matrinez, mas o perdeu na revanche, em Moinytevideo..
Nada mais natural que o Téti o escalasse para encarar o Gregorio . A luta foi na TV Rio, e o argentino mandou Luizão à lona logo no primeiro tempo, e finalizou-o no segundo, depois que o Kid Jofre atirou a toalha no ringue para evitar um massacre maior.
Gregorio já não tinha mais adversários no Brasil, e assim retornou à Argentina, iniciando lá uma carreira brilhante, que o levou aos USA, Espanha, Uruguai, onde fez lutas memoráveis. Em 1963, vencera Willie Patrano nos USA, o que o credenciou a voltar lá em 1964, contra o mesmo Pastrano para lutar pelo título WBA/WBC de meio pesados, uma luta que foi suspensa pelo médico, no 5º tempo, devido a corte no supercilio direito de Peralta. Lutou até como peso-pesado, duas vezes contra George Foreman, perdendo uma por pontos e outra por decisão do árbitro, e duas vezes contra seu compatriota Oscar Bonavena, perdendo ambas, essas já no final de sua carreira...
Seu retrospecto mostra 98 lutas (60 KOs)- 9 derrotas (3 KO by)- 9 empates. Morreu na Argentina em 2003, com 68 anos. Foi mais uma estrela que passou pelo programa TV Rio Ringue, com quem eu tive a honra de treinar e aprender muito da notável Escola Argentina de Boxe.