Títulos que nada valem
Por Jorge Luiz Tourinho
Que valem os cinturões Gold, Silver, Diamond e Internacional do Conselho Mindial de Boxe (CMB) ou os interinos e Gold da Associação Mundial de Boxe (AMB)? Para os boxeadores nada. Valem a arrecadação de taxas para os cofres das monarquias CMB e AMB.
Explico. Existem rankings mundiais e comitês de classificação para alocar lutadores aptos e em condições (pelo menos teóricas) de disputar os títulos mundiais. Haviam, na década de 1990, uma série de requisitos a serem cumpridos. Entre eles: boxeador nocauteado na luta anterior não estaria autorizado a ser desafiante, havia obrigatoriedade de revesar-se disputas obrigatórias (contra o primeiro da lista) e opcionais (contra qualquer um pertencente à mesma relação), os combates válidos teriam que acontecer em até seis meses após a conquista ou manutenção da cinta (admitindo-se a prorrogação do prazo por questões médicas).
Ora, se existe uma relação de desafiantes, para quê autorizar-se enfrentamentos por títulos desnecessários pois a própria definição da luta pode fazer subir ou descer nos rankings. Pior ainda é a invencionice de supostos cinturões que em nada deveriam influenciar o julgamento dos membros dos comitês de classificação.
Por outro as monarquias modernas do nosso esporte aproveitam esses títulos incompreensíveis para arrecadar mais taxas. Aqueles que queiram saber porque nomeei AMB e CMB como reinados basta ver quem foram os Presidentes e quem são os atuais. Pais e filhos. Sulaiman e Mendoza. O Sulaiman que ajudou a fundar o Conselho o presidiu de 1964 até a sua morte - neste século!!! Mendoza pai teve longevidade no poder menor mas também estranha.
Alexander Povetkin KO5 Dillian Whyte - a zêbra do ano até aqui. Realizada em Brentwood, Reino Unido, e trazida pela DAZN, valeu - pasmem - os títulos interinos dos pesados e o vacante Diamond, ambos do CMB. O bom boxeador britânico venceu os quatro assaltos iniciais tendo derrubado o russo duas vexes no quarto. Quando esperava que definisse o cotejo, fomos surpreendidos por um uppercat de esquerda sensacional que deu o triunfo ao nascido em Chekov. Povetkin (36-2-1) passa a sonhar em nova chance mundialista. Whyte ficou com 27-2. Haviam comentários que já pensavam em Tyson Fury como próximo oponente. Esqueceram de combinar com os russos...
Shawn Porter (31-3-1) W12 Sebastian Formella (22-1) - luta estelar da noitada do Microsoft Center em Los Angeles, EUA. Esse programa foi um verdadeiro fiasco pela falta de equivalência entre todos os contendores. O excelente Porter, candidato a disputar título welter, venceu todos os rounds contra um pugilista alemão que só apresentou bravura. Muito pouco até para o inexpressivo cinturão CMB Silver.
Nos outros combates exibidos: Sebastian Fundora (médio ligeiro) aniquilou Nathaniel Gallimore e Joey Spencer a Shawn West (médios). Como não aguentei a narração do garoto propaganda dos canais Disney abaixei o volume e, de vez em quando, o aumentava para tentar ouvir o comentarista Eduardo Ohata. Num momento da transmissão, disse que Formella queria terçar luvas com os melhores da divisão welter. Só pode ser piada. O cara perdeu todos os capítulos e nada fez para reverter uma decisão clara. Sugiro ao seus apoderados: contratem uma luta contra algum sparring do Errol Spence ou Terence Crawford para ver se ele poderá subir de patamar.
Efeméride 23 de agosto
1963 - Fernando Barreto W Juan Carlos Puebla - Ginásio do Ibirapuera, São Paulo, SP Barreto (67-9-1) nasceu em Campos, RJ em 3 de julho de 1937 e foi uma das grandes esperanças na fase áurea de boxe brasileiro. Acabou a carreira sonado após uma duríssima derrota. Para saber-se sua história recomendo os excelentes artigos do excepcional jornalista Paulo Roberto Godinho: "Fernando Barreto, o Fenômeno que não Aconteceu". Foram publicados no Jornal dos Sports, Coluna Papos & Sopapos, a partir de 2 de julho de 2000 aos domingos.
Por escrever de Paulo Godinho, de quem me declaro fanzoca de auditório, indico seu livro Fila Brasileiro, trabalho definitivo sobre a raça de cães desenvolvida aqui no país. Pelos atributos e qualidades desses cachorros, poderemos sem erro definir um lutador técnico, agressivo e dominador do quadrilátero como Fila Brasileiro. Acho mais correto que Pitbull.