Teresina, Zhilei Zhang e Tijuana
Jorge Luiz Tourinho
16 de Abril de 2023
A tarde noite do sábado 15 de abril marcou o início dos eventos de Boxe profissional em Teresina, PI. O Centro de Convenções da capital piauiense estava lotado de fãs e mostrou qual é o caminho a ser trilhado para se desenvolver a nobre arte brasileira: realizar eventos com todos os requisitos regulamentares atendidos. Não há outra forma. Na falta de promotores, as entidades reitoras estaduais e locais devem se empenhar para conseguir com que aconteçam programas pugilísticos com, pelo menos, um combate entre profissionais. Ao menos uma vez por mês as Associações, Ligas e Federações poderiam ter essa iniciativa.
As redes de TV continuam ignorando as programações de Boxe, poucas por sinal, que acontecem no território nacional. Mesmo assim, a Internet nos vem possibilitando assistir as lutas como as que tiveram lugar em Teresina. Pela WEB, a TV Meio Norte Mais levou ao mundo seis dos nove cotejos que compuseram a noitada. Estão de parabéns os organizadores e a Federação do Piauí. Vamos às lutas.
Título brasileiro dos super penas.
Francisco Eduardo Gomes da Cruz (3-0) TKO6 João Victor Lopes (2-5-2). Vitória clara e insofismável do agora campeão do CNB. Dominou desde a campainha inicial e foi incansável até que o árbitro decretou o nocaute técnico. Pareceu-me ser o duelo entre um boxeador que queria sair do ringue como o rei da divisão e outro que desejava apenas ouvir a decisão dos juízes. Foram cinco quedas aplicadas nos quarto, quinto e sexto tempos. Lopes não venceu nenhum dos assaltos pontuados por mim e, em nenhum momento, exibiu empenho de quem queria voltar para São Paulo com o cinturão.
Antes que alguém me pergunte algo sobre o título em jogo, escrevo que o último ranking do Conselho no seu site é o de setembro de 2021. Não sei, e nem quero saber, como um pugilista com cartel negativo pode estar entre os desafiantes a algum cinto.
Os outros combates que foram transmitidos foram:
Pesados – Ronalddy Matheus Costa Medeiros (3-2) KO1 Mateus Pereira Porto Holanda (0-1).
O vencedor implodiu seu oponente de forma categórica com bombas na zona hepática. A maior envergadura de Holanda não o impediu de receber o castigo que levou ao nocaute.
Leves – Milton Pantoja dos Santos Jr. (2-3) TKO4 João Paulo "Morcego" de Souza Silva (0-1).
Triunfo claríssimo de Pantoja diante de um adversário com poucos recursos defensivos. O Morcego caiu no primeiro e no terceiro capítulos e não voltou para o quarto alegando uma contusão no braço ou na clavícula direita. Ambos precisam de muito mais preparo físico. Santos Jr teve o confronto nas mãos logo no início. Voltou para o segundo tempo como se estivesse cansado e o lutador do Piauí Top Team quase equilibrou.
Cruzadores – Jonatas Gomes Pereira (1-0) W4 Alfredo Laércio Silva Matos Jr (2-2).
Combate eletrizante! Uma verdadeira guerra foi protagonizada e o numeroso público veio com os dois gladiadores. Pouco importou se faltava técnica e sobrava bravura. A plateia queria ver a trocação franca. Esquivas, preparação de golpes, postura e movimentação são para os verdadeiros aficionados. Ouvi marcações de 40-36 (o que marquei) e 39-37. Falta uma papeleta.
Médios-ligeiros – Iago Freitas (1-0) TKO1 Ricardo Freitas Vitorino (0-1).
Iago mostrava postura mais equilibrada, mas recebeu um contragolpe e foi à lona. A partir daí, guerrearam e, no final do assalto, Vitorino recebeu um direto e bambeou. Logo em seguida acabou o tempo. Mesmo sem cair, para surpresa de quem acompanha a modalidade, o mediador. resolveu abrir uma contagem e deu o nocaute técnico. Concordo com quem diga que foi uma barbaridade. Não pode existir contagem protetora no profissionalismo. Ou não deveria existir, melhor dizendo. O fato é que o animado cotejo foi encerrado porque Vitorino estava com as mãos – ou uma delas – na corda…
Esse triste episódio nos traz a necessidade das entidades promoverem anualmente cursos de formação de árbitros, cronometristas e juízes e jornadas técnicas para avaliar os erros e propor melhorias.
Leves – Paulo Sérgio Fernandes Lima (1-0) W4 Jefferson da Silva (7-2).
Uma queda no terceiro round foi determinante para a vitória do estreante Lima, o Paulo Bala. Os três juízes e eu marcamos 38-37. Faltou condição física para que Jefferson continuasse a dominar. Pelo menos, foi o que me pareceu.
Outras três lutas foram: Raimundo Nonato de Abreu Neto (0-0-1) empatou com Edmílson Meirelles da Luz (2-0-1), leves. Erasmo Carlos Oliveira Filho (1-1) venceu a Vitor Ribeiro (1-2), super médios e Whilton de Melo Moreira (4-3-1) a Marcos "Apollo" Fontenelle (0-1), médios ligeiros.
Zhilei Zhang (25-1-1) TKO6 Joe Joyce (15-1)
Festa armada na Copper Box Arena na Inglaterra para que Joe Joyce mantivesse o título interino da WBO e pudesse ser programado com Usyk ou Fury. A zebra aconteceu por causa do olho direito de Joyce estar fechado. Aqueles que gostam de criticar juízes e árbitros quando as decisões não lhes favorecem, o que dirão agora?
Zhang foi escolhido como um possível bom adversário para catapultar o inglês para uma luta milionária por cinto universal. Saiu de Londres como um oponente provável para o campeão unificado WBA-IBF-WBO. Seja ele Usyk ou Dubois. Quem diria que, depois da derrota para Filip Hrgovic, Zhilei Zhang chegaria aonde está.
Tijuana, México, ESPN Knockout.
Outro evento nos chegou via ESPN4. Muito bom, mas muito bom, mesmo. A razão do sucesso? O comentarista Eduardo Ohata desvendou: combates equilibrados. Ou seja, no papel, lutadores do mesmo nível.
Nem todos os programas mexicanos têm o cuidado que a Zanfer Boxing teve. Contudo, o equilíbrio mesmo que não hajam craques no quadrilátero produz confrontos memoráveis. Como consequência, públicos cada vez mais fiéis e TV transmitindo para o mundo.
Uma pesquisa no indispensável site BoxRec mostra que o número de programas no México em um único mês é maior do que os realizados no Brasil durante um ano. Precisa-se organizar eventos com lutas entre profissionais.