Terence Crawford vs Julius Indongo é decepção
Por Paulo Roberto Godinho
Perdi minha noite de sono esperando por esse combate entre o americano Terence Crawford e o namíbio Julius "the Blue Machine" Indongo, disputado o último sábado.
Depois de ter aturado duas lutas preliminares muito fracas, restava-me o combate final entre o brilhante Crawford e um Indongo que eu nunca vira lutar, mas que trazia em sua bagagem dois cintos, da FIB e da AMB, e um cartel invicto. Cheguei a pensar que veria uma luta bem disputada quando vi a altura e o comprimento dos braços de Indongo. De imediato, imaginei vê-lo calmo e paciente, usando jabs e se movendo em torno do fenômeno americano, mas Julius não tomou conhecimento do colosso que tinha pela frente e partiu para a agressão.
Aí... o que se viu, deu pena. Indongo se mostrou um amador, desajeitado grandalhão sem mostrar nenhuma força em seus desgovernados golpes, surpreendendo até Terence Crawford, que não esperava aquela disposição de atacar do africano, e mais, de ver à sua frente um campeão com dois cinturões completamente a descoberto em sua linha baixa e batendo seguidamente com a base de pernas nas pontas dos pés, saltitando, o que inviabilizava qualquer possibilidade de potência em seus golpes.
Por seu lado, Crawford mantinha-se absolutamente calmo e plantado em sua base, desferindo golpes sem força, como se estivesse estudando a melhor maneira de acabar logo com a luta. Logo ao final do segundo tempo, Indongo sofreu um "knockdown"; para mim, mais por um desequilíbrio de trocação de pernas do que pela dureza de um golpe de Crawford; Jack Reiss fez a contagem e pouco depois a segunda etapa estava encerrada.
Duvido que alguém presente no Pinnacle Bank Arena, Lincoln/Omaha, depois deste segundo round visse alguma possibilidade de Julius Indongo conseguir derrotar Terence Crawford. A sucessão de enganos e atrapalhações por parte dele continuaram até que uma direita em hook de Crawford entrou nas costelas do africano que caiu vergado na lona, absolutamente fora de combate, sem escutar a contagem de Reiss que a levou até ao dez fatal.
Encerrava-se ali o sonho do que chamaram "A Máquina Azul" e, aos cinturões do CMB e da OMB que estavam com Crawford, foram acrescidos os da FIB e da AMB que estavam com Indongo.
Há muito tempo não assistia uma luta tão fácil e uma noitada de boxe tão fraca.
A imprensa americana noticia que o caminho de Terence Crawford nos superleves (63,5k) está encerrado. Agora é partir para os meio-médios (66,6k) e já divulgam que o promotor Bob Arum (Top Rank) deseja levá-lo à Australia, em novembro, para assistir à revanche entre Jeff Horn e Manny Pacquiao e ser o desafiante do vencedor. Pelo lado de Crawford não creio que seja um mau negócio, mas se Pacquiao vencer, não vejo com bons olhos uma luta dele, já em fim de carreira declarado e, mesmo com toda a sua bagagem, categoria e raça, nos dias atuais não será páreo para Terence Crawford.
Sem nenhuma dúvida coloco hoje Terence Crawford, Vasyl Lomachenko e Saul Canelo Alvarez como os três mais brilhantes boxeadores da atualidade. Estão sobrando em suas categorias.
Imagem: Sky Sports