Surpresas e Perigos
Por Jorge Luiz Tourinho
Semana recheada de boxe pela TV. Os aficionados de São Paulo ainda não puderam assistir ao vivo por causa da pandemia. Vamos começar pelos destaques e surpresas que nos foram proporcionados e depois abordarei o que considero perigos. Adianto que não quero fazer a cabeça de ninguém. Desejo que alguns fatos possam ser examinados pelos leitores.
O Boxing For You se consolidou como o grande - talvez único - evento pugilístico do Brasil. A noitada de ontem apresentou dois das quatro maiores expressões brasileiras. Lamentavelmente, a pandemia e o valor do dólar impossibilitaram que Sérgio Batarelli e seus sócios contratassem adversário de maior nível para Esquiva Falcão.
Na luta final, Robson Conceição (14-0) fez o oponente Eduardo Reis (24-8) parecer um estreante tal a sua extraordinária linha puglística. Medalhista de ouro olímpico, está sendo preparado para entrar nos rankings mundiais dos leves e, se continuar vencendo, na relação de possíveis desafiantes.
No combate anterior, Esquiva Falcão (27-0) derrubou 4 ou 5 vezes a Morrama Santos (5-5) no primeiro capítulo para sair vencedor por TKO. Lutaram como meio pesados e essa peleja não deveria ter acontecido. A disparidade técnica foi enorme. Foi o tipo de triunfo que nada somou à carreira do capixaba. Espera-se que tanto Falcão como Conceição sejam programados com boxeadores mais qualificados, pelo menos em tese. Morrama apareceu no card por contusão de Davi Eliasquevici.
Concordo com o excelente narrador Eder Reis da Fox Sports quando pediu que não se criticasse o perdedor pelo que nada mostrou. Quem deve explicar porque houve a luta totalmente desigual são os promotores e a entidade supervisora do evento. O lutador profissional quer e precisa participar de programas, ainda mais esse. Contudo, uma análise dos cartéis deveria ter impedido o emparceiramento.
Para isso eles existem.
O melhor da noite foi o bom combate entre Vitor Siqueira (6-1) e Kenes Mesquita (3-3). Médios ligeiros que deram tudo em busca da vitória. Merecem ser novamente colocados no Boxing For You com outros oponentes. Foi a prova que o equilíbrio faz com que grandes espetáculos sejam exibidos.
No mesmo sábado, tivemos uma programação muito boa vinda de Los Angeles. Bons e muito bons enfrentamentos. A atração estelar, título AMB médio ligeiro, foi curiosa pelos estilos um pouco diferentes dos contendores. Erislandy Lara não se acanha em agarrar e ficar de longe e o desafiante Greg Vendetti se movimenta de forma não ortodoxa, quase estranha. Foram para 27-3-3 e 22-4-1. Não serão páreo para nenhum dos melhores da divisão.
Já vimos ex-campeões tentando dar seguimento às suas trajetórias mas é triste quando os vejo desconexos ou lentos dentro do quadrilátero. Nos EUA, Alfredo Angulo foi derrotado por um valente mexicano Vladimir Hernández. O Perro mostrou-se como uma sombra daquele que um dia esteve num trono. Na Austrália, quarta-feira, Jeff Horn foi espancado duramente pela revelação Tim Tszyu até a toalha ser jogada no final do nono assalto. Tszyu é muto bom mas Horn se mostrou completamente desconexo. Sem guarda nem movimentação. Pensar que foi um dos vencedores de Manny Pacquiao.... É tempo dos dois derrotados se retirarem.
Do Reino Unido vieram as imagens do pesado Daniel Dubois, carta na manga da empresa Queensberry Promotions para título mundial. Em jogo um desses títulos que nada valem. Pois bem, o desafiante Ricardo Snijders tinha 18-1 mas foi para a lona 3 vezes no tempo inicial e outra no segundo.
TKO para Dubois ir para 15-0 sem levar um soco. Na California teria sido decretado KO após a terceira queda no mesmo assalto.
Quais são os perigos? Lutas sem equivalência. O boxe tem um risco intrínseco. Golpe na cabeça não é carinho. Tem que ser estudado se aquele que quer combater tem condições para enfrentar o adversário. No mínimo uma análise do cartel. Outro risco é transformar a jornada num fiasco e afastar as TVs e o público do pugilismo.
Efemérides: 30 de agosto.
1930 - Rubens Soares W6 Vicente Caetano - São Paulo, SP
O vencedor foi destaque nessa fase anterior à etapa de ouro do boxe brasileiro. Ficou com 61-12-5. O perdedor não obteve maior destaque. Tem registrados 5-12-6. Lutaram como médios, acho.
2014 - Patrick Teixeira W10 Mateo Damián Verón - Guarulhos, SP
O vencedor é o atual campeão médio ligeiro da OMB e não teve muita atenção da mídia brasileira que se concentra apenas nos medalhistas olímpicos. Vejamos se daqui pra frente Teixeira apareça mais no noticiário. Está com 31-1. Verón é argentino e continua em atividade.