Sugestão para o Conselho Nacional de Boxe e outras entidades
Por Jorge Luiz Tourinho
23 de setembro de 2021
Há pouco mais de trinta anos que vejo resultados de lutas equilibradas provocarem manifestações de quem acha o veredito errado. Quando comecei a carreira de juiz algumas reações eram lastimáveis. Treinadores e membros de equipes e até boxeadores chutando cadeiras e mesas e baldes, jogando luvas usadas na mesa diretora e no chão, xingamentos de juízes e mesmo ameaças a eles.
Felizmente passou. Os dirigentes passaram a punir e, hoje, as reclamações passaram para as redes sociais. Quando o resultado não agrada as postagens não tardam. "Foi roubo!". "Ladrões!". "Só tem ladrões!". "Corrupção!". "Tem que matar!". Essas são algumas das pérolas lançadas inclusive nos Grupos de Boxe e nos chats das transmissões YouTube. Aposto que a quase totalidade desses que protestam da forma que descrevi nunca leram os regulamentos do nosso esporte. Nem sabem quais são os critérios para sacar vencedor em cada um dos assaltos jogados.
Considerando que combates equilibrados podem produzir rounds de difícil marcação e resultados não unânimes e que as reclamações são um direito desde que seguidos os canais competentes, tomo a liberdade de sugerir ao Conselho Nacional de Boxe (CNB) o que segue. Pode ser usado por qualquer entidade que esteja supervisionando algum título.
Levar cinco juízes para a disputa de cinturão. Três deles marcarão oficialmente. Os outros dois também o farão. Do lado da mesa diretora pontuarão papeletas de consulta, de assessoramento ou o nome que queiram dar. Em caso de reclamação, o Diretor de Combate poderá consultar as duas papeletas adicionais e decidir de imediato, se assim quiser. Vai dizer que o resultado valeu mesmo ou que a reclamação procede e será ordenada uma revanche imediata.
Claro que não levará a que todos concordem com a decisão. Contudo, poderá evitar que se cometa a injustiça de xingar, insultar e colocar dúvidas quanto à honradez dos oficiais do CNB que fazem um excelente trabalho, em minha opinião.
Por outro lado, quando houver transmissão ao vivo - por TV e pela Internet - a entidade reitora poderá solicitar às suas filiadas que indiquem voluntários para marcar papeletas de suas residências. Essas seriam remetidas eletronicamente antes da promulgação do resultado. Os oficiais seriam, dessa forma, observados e, caso acertem costumeiramente, poderão ser convidados para eventos futuros e/ou guindados aos quadros nacionais.
Não estou de forma alguma querendo mudar o comportamento das pessoas. Digam e escrevam o que quiserem. Falar é fácil. Aqueles que realmente amam o Boxe deveriam refletir. Se querem ajudar, entrem num curso de formação de oficiais e parem de tentar jogar lama nos jurados. Os que forem aprovados poderão sentar numa cadeira e ver como falar é muito mais fácil do que julgar uma peleja com equivalência.
É evidente que os juízes erram. São humanos. Daí a decretar que são ladrões ou corruptos é outra coisa. Eles estão sob constante observação e devem participar de seminários e congressos técnicos para o aperfeiçoamento. Mesmo assim se equivocam. Mas infinitamente menos que os locutores que vem do futebol narrar eventos pugilísticos e que os eventuais torcedores de algum boxeador que está em ação na telinha.
Não acreditem em mim, pesquisem. Vejam como não há dúvida quanto ao cotejo Jonhatan Cardoso Vs Juscelino Pantoja. Antes do abandono por contusão no quarto tempo, Pantoja havia vencido o primeiro e o segundo. Jonhatan venceu o terceiro. Todos por 10-9.
Agora assistam a contenda entre os meio-pesados Francisco Chicão Valentim e Conan Lara de Miranda. As duas lutas devem estar no canal Coliseu Boxing Clube. Deu para ver porque existem juízes e porque devem ser especialistas? Notaram que o veredito não pode ser dado pelo operador do CompuBox nem pelos locutores ou por apenas um comentarista?
Sem juízes o Boxe é briga de homens (ou de mulheres). No Brasil isso é crime.