Rio In Ring 3
Jorge Luiz Tourinho
Fotos: Natti (https://banlek.com/natalia)
26 de outubro de 2022
Outra vez mais o Grajaú Country Club, no Rio de Janeiro, RJ, sediou o evento organizado e promovido pelo Sr. Walmor Silva de Souza. Muitas coisas aconteceram no dia 23 de outubro, mas, somando e subtraindo, noves fora, foi um excelente programa. Estão de parabéns o Sr. Walmor e todos os envolvidos que colaboraram para a concretização da programação.
Vou analisar abaixo as lutas e as minhas surpresas na noitada. Contudo, é preciso reforçar que o sucesso, na minha opinião, ocorreu pela equivalência nos combates. Carteis compatíveis produziram - ou foram fundamentais - cotejos nos quais se previu ter igualdade. Dos nove confrontos apenas um acabou desnivelado. Não pelo recorde. Pela maior categoria do peso médio Thiago da Silveira que triunfou de forma retumbante.
Começo listando os fatos que me surpreenderam. Não quero fazer críticas. Entendam como forma de contribuir para a melhoria do nosso esporte.
Todos os boxeadores que tinham carteis negativos - mais derrotas que vitórias - se apresentaram bem ou dignamente quando vencidos. Nenhum deles foi mosca morta. Houve empenho e alguns foram brindados com o triunfo. Mais uma prova que a equivalência faz muito bem ao Boxe. Elogios ao matchmaker Walmor de Souza.
Acidentes e imprevistos podem acontecer. Por isso devem ser previstos. O atraso de quase duas horas não pode ser aceitável. Se houver alguma coisa que o tenha produzido, o público, as equipes e a imprensa devem ser avisados pelo sistema de som que tocava música. A pontualidade atrai anunciantes, patrocinadores, expectadores e veículos de imprensa.
Talvez seja possível que exista interesse de alguma família das academias da FPERJ em explorar a venda de sanduíches, salgados e refrigerantes e bebidas. Eventos longos trazem sede e vontade de comer aos presentes. A cantina do clube não ficava perto e nem sei se estava aberta na hora das lutas.
Fui muito bem recebido pelo dirigente Antônio "Toni" Santana que colaborou como cronometrista e na mesa diretora e pelo presidente Marx, ambos da Federação de Pugilismo do RJ (FPERJ). Agradeço e reafirmo meu desejo de reportar o que assisto, criticamente, como forma de divulgar o que vai pela nossa modalidade.
Talvez se possa retomar prática do passado. A colocação de pequenos recipientes de madeira contendo breu para os atletas passarem suas sapatilhas para evitar escorregões. Era equipamento periférico obrigatório e chamado Caixote do Breu. A verdade é que qualquer lona tem uma capacidade limitada de impermeabilidade. Os intervalos não servem para que se banhem os lutadores. O resultado foi a pista molhada provocando derrapagens.
A última coisa a me surpreender foi ter visto luta completamente diferente dos juízes que pontuaram a disputa de título entre João Rocha e Wendel Santos. Devia estar cansado. Quando houver cursos de formação de juízes, espero ser aceito como aluno pela FPERJ e/ou ABP (Associação Brasileira de Pugilismo). A diferença foi enorme e me assustou.
Seguem os confrontos.
Título CNB leve - João Gabriel "Monkey" Cândido Rocha (6-0) W10 Wendel Rafael "Pará" da Costa Santos (2-5-3).
Foi essa que vi diferentemente dos juízes. Não vi o campeão Rocha perder nenhum assalto. O único que entendi que estava atrás foi o segundo no qual Santos apertou e, na curta distância, acertou alguns golpes. Porém, um gancho de esquerda o fez retroceder e desistir da iniciativa.
Embora as condições do ringue não estivessem as desejadas, Monkey dominou o combate e acertou os melhores golpes na minha visão. Vale aqui uma observação: quem disputa um cinturão deve se empenhar com mais intensidade do que a apresentada pelos dois. A pontuação é dada para quem mais acerta socos. Nessa divisão, boxeadores devem se preparar para atirar, pelo menos, 60 golpes por assalto.
As papeletas foram: Maura Costa 96-94, Eugênio dos Santos 96-95 e Marcos Machado 97-93. Anotei 100-90...
Super penas - Daniel "Eddie Murphy" Araújo (3-6-3) W6 Robson "Prince" Matias de Souza (3-1).
Cotejo vibrante e emotivo protagonizaram os dois guerreiros! O cartel negativo de Araújo engana. Tomou conta desde o início e ambos mostraram a energia e intensidade que é desejada em qualquer disputa de título.
Prince mostrou qualidades, mas foi superado sem contestação. A falta de pegada exige mais velocidade para sair e para contragolpear. Entre muitas lutas boas essa foi a melhor da noite.
Os juízes viram: Eugênio dos Santos e Júlio Salomão 58-56 e Mauro Santos 60-54. Marquei 59-55.
Meio-médios - Matheus "Pantera" Ferreira Augusto (4-0) W6 Rodolfo Pinto Bispo (1-3).
Triunfo categórico do milongueiro Pantera! Bispo exigiu demais em outra luta espetacular. Se falta dinamite nos punhos, então que se atirem golpes e mais golpes. É outra revelação que deve ser cuidada com cautela. É cedo para título brasileiro. Que ambos se adaptem melhor aos seis rounds e, com calma, vão enfrentando adversários com carteis equivalentes.
De onde estava, pareceu-me que Bispo decaiu fisicamente nos dois últimos tempos. Os escores foram: Maura Costa 57-57, Júlio Salomão 60-54 (foi o que marquei) e Marcos Machado 58-56.
Cruzadores - Márcio Carlos "Blade" de Oliveira Soares (2-2) W4 Gabriel Felipe "Hitman" Vieira Lima (0-3).
Se faltou lucidez, sobraram valentia e iniciativa. Blade derrubou no segundo capítulo com golpe no corpo. Não insistiu muito nesse script. Na segunda vez que um assistente perguntou porque ele não batia no fígado, respondi: "Porque ele não quer vencer por nocaute!". Preferiu atirar bombas na cabeça e o cotejo foi para a decisão unânime.
Eugênio dos Santos e Maura Costa 39-36 e Marcos Machado 40-35 que foi o que anotei.
Pesados - Mateus Munhoz Matias da Penha (1-0-1) W4 Daniel Emmanuel Bowden (2-1)
Mateus não era o favorito, mas não se importou com as previsões e meteu a mão com vontade para construir uma vitória muito boa. Houve um knockdown no terceiro episódio e outra queda poderia ter sido considerada também fruto de golpe.
Mais preparo físico é indispensável para ambos. Sem combustível no derradeiro assalto, Munhoz colocou em risco um triunfo que já parecia certo.
Os juízes marcaram: Júlio Salomão e Eugênio dos Santos 40-35 e Marcos dos Santos 39-37. Anotei 39-36.
Pesados - Raiuga Eugênio de Souza (1-1) W4 Luiz Carlos Costa Poerari (0-2).
Outro confronto emotivo e interessante! Ambos buscaram a vitória com o que dispunham. Raiuga foi dominante. Desta vez se apresentou mais magro e mais enxuto. Mais e melhor condição física fará bem aos dois.
Uma falta incompreensível foi marcada contra o vencedor. Ainda bem que não interferiu no resultado final. Raiuga não projetou a cabeça para golpear com ela. Estava se movimentando, licitamente e sem maldade, para entrar no infight aonde estava levando nítida vantagem.
A decisão unânime se deu com: Maura Costa 39-36 (foi o que marquei) e Júlio Salomão e Marcos Machado 38-37.
Médios - Thiago Ferreira da Silveira (3-0) TKO2 Newima de Lima Vilar (0-1)
Foi a única luta que o vencedor transformou em desigual. Poderá ir longe o Thiago! Mostrou excelente linha, movimentação e velocidade na movimentação e no atirar dos golpes. Vilar nada pode fazer diante de rival muito superior. Foi bravo até que o árbitro Salomão acabou com a disputa acertadamente. Já havia caído no assalto inicial. O nocaute seria consequência natural e desnecessária.
Cruzadores - Nelbe Jacundino de Souza (2-1-2) D4 Marcos Sebastião "Hulk" Ferreira (2-0-1)
Outra luta emotiva e emocionante! Duas fases bem distintas. Nelbe, para mim, venceu os dois tempos iniciais com mais golpes acertados e movimentação mais harmônica. Hulk acertou uma bomba que provocou intensa hemorragia nasal. Talvez com medo de perder por nocaute técnico, Nelbe entregou praticamente o domínio do ringue para Ferreira que marcou 10-9 nos dois episódios restantes.
A decisão não agradou muito ao Hulk, mas agradou a mim. Os juízes Maura Costa, Júlio Salomão e Eugênio dos Santos e eu marcamos 38-38.
Leves - Raniere "Rani Capiau" da Silva Belém (0-1) NC2 Wilames "Will" do Carmo Silva (0-2)
Uma violenta cabeçada involuntária no segundo round levou o mediador Eugênio dos Santos a paralisar o cotejo e decretar o Sem Decisão (NC = No Contest).
Will teria vencido o primeiro tempo na minha ótica. Rani voltou pro segundo para reverter o quadro. Estava conseguindo, mas o choque provocou um corte na sua testa. Talvez na Argentina ou no México essa luta continuasse porque estava agradando o público. Contudo, acho que a decisão foi correta.