Oleksandr Usyk é o novo campeão pesado
Por Jorge Luiz Tourinho
26 de setembro de 2021
De um lado um gigantesco peso pesado capaz de resolver a luta com um ou dois socos. Do outro um ex-campeão unificado dos cruzadores com envergadura bem menor e que precisa de vários golpes e combinações para vencer antes do tempo.
Imaginava que o pegador fosse tomar o centro do ringue e caçar o adversário. Abusando dos jabs para afastá-lo para a distância que lhe fosse confortável e, caso ele encurtasse, aceitasse a trocação. Não foi essa a estratégia de Anthony Joshua. Preferiu esperar o desafiante entrar no seu raio de ação para atingi-lo com golpes retos e vencer os assaltos. Bastaria não ser atingido. Usyk teve que adotar o caminho já esperado: encurtar, bater e cair fora.
O plano de luta do então campeão começou a dar errado quando o movediço desafiante se mostrou mais veloz e acertou alguns poucos murros. Ambos buscaram acertar golpes para conquistar vantagem em cada round. Nada de correr riscos. Economizaram energia o quanto puderam. Os 66 mil espectadores presentes ao campo do Tottenham mereciam mais iniciativa, mais trocas. Quem assistiu a luta do Makhmudov também.
Dois diretos de esquerda deram a vantagem a Usyk no primeiro tempo. Uma combinação jab-direto o 10-9 para Joshua no segundo. No terceiro, AJ bambeou e clinchou mostrando ao mundo que seu queixo não é confiável. O ucraniano continuou mais veloz no quarto capítulo. Poucos golpes a mais lhe deram a vitória nesse. Joshua não soube ou não quis cercar seu oponente. Apenas o perseguia dando-lhe espaço para sair para os dois lados. Mesmo assim acabou vencendo os quinto e sexto tempos. Nesse foi o único assalto em que ele partiu para a troca franca logo recusada por Usyk.
Poucas boas esquerdas deram nova marcação de 10-9 para o desafiante no sétimo. Joshua venceu o oitavo com bombas no corpo (poucas), coisa que deveria ter explorado desde cedo. Oleksandr respondeu com mais movimentação e velocidade para sair e bater e levou o nono round. Um duro direto de direita deu o 10-9 para AJ no décimo.
Somente nos dois últimos tempos foi que vi o desafiante com vontade de sair de Londres como campeão mundial. A intensidade que não percebi foi agora apresentada. A maior quantidade de golpes conectados, principalmente no derradeiro episódio, deram ao visitante dois 10-9.
Joshua acabou a contenda descontente e exausto. A sorte estava lançada. Os juízes marcaram: 117-112 (Viktor Fesechko), 116-112 (Howard Foster) e 115-113 (Steve Weisfeld) que foi o que anotei. Joshua foi para 24-2. Usyk que ficou com 19-0 levou as cintas da WBA, IBF, WBO e IBO.
A luta de 170 milhões contra Fury já é coisa do passado. Não sairá mais. O empresário do novo campeão revelou que havia assinado uma opção de revanche imediata caso ele vencesse. Lamentável. Posso estar enganado mas creio que o Rei Cigano é favorito para vencer os dois.
Preliminares exibidas pelo DAZN Brasil.
Meio-médios) Florian Marku (9-0-1) W10 Maxim Prodan (19-1-1).
Valeu o inexpressivo título Internacional da IBF. Bom combate. Marku é meio fanfarrão mas é muito forte e resistente. Pode aspirar voo mais alto, pelo menos na Europa. Prodan teve altos e baixos e se mostrou à altura do Rei Albanês. A decisão foi dividida com: 91-99, 97-93 e 96-94 (foi o que marquei).
Meio-pesados) Callum Smith (28-1) KO2 Lenín Castillo (21-4-1).
Brutal nocaute anunciado como TKO que deve ter abreviado a carreira de Castillo. Caiu com as duas pernas tremendo e levaram bons minutos para tentar acordá-lo. Foi transportado de maca para um hospital. Tomara que esteja bem. Smith voltou após a derrota para o Canelo e exibiu classe. Deverá ser programado para cinto mundial nessa divisão cedo ou tarde.
Leves) Campbell Hatton (4-0) W6 Sonny Martínez (2-5).
O árbitro Michael McDonnell viu o filho do ex-campeão mundial Hatton triunfar por 58-57. Vi outra coisa. Martínez acertou diversos golpes em várias ocasiões. Campbell não pega e gosta de cercar e partir para cima. Precisa melhorar, e muito, a defesa para seguir com essa forma de lutar. Para mim Martínez venceu por 58-56.
Título WBO cruzador) Lawrence Okolie (17-0) KO3 Dilan Prasovic (15-1).
Combate fraquíssimo para ser disputa de cinturão importante. Prasovic não pode ser primeiro desafiante em lista nenhuma. Nada apresentou. Okolie também não teve muita lucidez mas acertou um diretaço de direita no segundo que provocou a primeira queda. No terceiro um cutucão no fígado fez o montenegrino ficar na lona. Depois de um confuso assalto inicial, pouco seria de se esperar.
Vale aqui uma reflexão. A WBO deve retornar com o Comitê de Classificação independente. Inclusive, entrar no seu ranking mundial teve ter a seguinte norma: ou o cara se torna campeão continental ou então vence algum ranqueado. Fora disso, quase nada e explicado se acontecer.
Imagem: Quinto Quarto