Remover o preconceito dos executivos das TV brasileiras
Jorge Luiz Tourinho
17 de março de 2022
É a hercúlea tarefa que tem pela frente os dirigentes e promotores do Boxe brasileiro. Embora tenhamos diversos canais exclusivos de esportes, raramente aparecem nas telinhas os eventos realizados no Brasil. A maioria, senão a totalidade deles, nada cobraria pela transmissão. Contentar-se-iam com a ida do programa para o ar.
A coisa fica inexplicável quando se vê nas grades dessas mesmas emissoras lutas que são vendidas como lutas e que não são lutas, são exibições caça-fortunas. O pessimamente denominado boxe de areia também encontra espaço nesses canais. O mesmo acontecendo com o "boxe sem luvas", uma espécie de briga de homens regulamentada em algumas Comissões Atléticas de Estados Americanos.
Felizmente, o Boxe de verdade, aquele sem comediantes, youtubers e outros aproveitadores, tem sido uma constante na programação dos canais Disney. Embora divirja dos termos constantemente usados pelo locutor Matheus Pereira em relação à honestidade dos juízes, tenho que ressaltar a categoria dos comentaristas Servílio de Oliveira e Eduardo Ohata.
Há um desfile semanal de estrelas dos ringues e promessas. Inclusive, nos chegam imagens de noitadas do México e da Argentina. Porque não abrem lugar para as programações que acontecem em nosso território? O que será que alegam os executivos das TV brasileiras? Falta de qualidade? Falta de equivalência? Locais pouco iluminados? Quem sabe e pode me dizer?
O último Coliseu Boxing Club só teve combates equivalentes no papel. Guardadas as devidas proporções, foi equivalente a alguns eventos vindos de terras mexicanas. As lutas que foram desequilibradas o foram pela ação dos vencedores. Coisa absolutamente normal na Nobre Arte. Não houve nenhum massacre. Provavelmente, o matchmaker do Coliseu deve ter ouvido as precisas e pertinentes observações do ex-árbitro, ex-dirigente e ex-juiz, Jorge Bueno, e se esmerou no emparceiramento dos cotejos. A verdade é que disputas como Yamaguchi Vs. Tubarão, Cardoso Vs. Pantoja e Maldonado Vs. Tatuado deverão ser evitadas. Até mesmo por segurança daqueles considerados zebras. Como títulos brasileiros jamais.
Alguém que queira justificar a existência de combates como os três que citei acima, poderá dizer: "Eles estavam no ranking brasileiro...". Sim, estavam. Esse foi o erro! Não escrevo para ser convidado para ajudar a elaborar a lista do Conselho Nacional de Boxe (CNB). Mesmo porque já adquiri inimigo importante dentro dele. Escrevo porque tenho alguma experiência, inclusive colaborando por curto período com a CBBoxe quando era a reitora do profissionalismo.
O ranking não precisa ter dez, doze ou quinze boxeadores em cada divisão. Deve ter aqueles que tenham reunido resultados e apresentem virtudes para serem campeões brasileiros. Se numa categoria só existem dois, são com esses dois que se forma a lista. Critérios devem ser estabelecidos e seguidos. Por exemplo: boxeadores devem ter cartel positivo e estar em atividade a, pelo menos, um ano e dois meses. Títulos não defendidos, havendo desafiantes, um ano após a conquista ou manutenção deverão ser considerados vagos.
Por outro lado, as Federações, Ligas e Associações devem, no mínimo, fazer uma luta profissional por mês. Não é possível que não apareçam dez ou vinte abnegados que possam contribuir para isso. Sigamos os exemplos vitoriosos de outras Nações. Façamos noitadas com diversas contendas entre amadores e uma entre profissionais em local no qual se possa cobrar ingressos e criar o hábito do Boxe. Evidentemente, esse lugar deve ter as condições exigidas pelo Regulamento.
Enfim, muito se tem a fazer e o caminho é difícil. A volta do pugilismo nacional para a TV poderia alavancar seu crescimento. Diante da pandemia e das dificuldades financeiras (o dólar está valendo 5 reais) os dirigentes e promotores do nosso Boxe ainda tem que remover o preconceito dos executivos das TV brasileiras.