Quase deu zebra na noite dos Galos

17/08/2021

Por Jorge Luiz Tourinho

16 de agosto de 2021

O trabalho de emparceiramento de lutas nas grandes empresas como a Premier Boxing Champions (PBC) é feito pelo matchmaker. Ele é quem estuda, pesquisa, checa informações e indica a contratação para que haja combates com equivalência. O equilíbrio entre os contendores é meio caminho andado para grandes espetáculos. As memoráveis pelejas fazem aumentar a audiência, a arrecadação e os anunciantes.

No papel, o programa que veio ao ar na noite de sábado 14 de agosto pela Fox Sports estava bem montado. Esperava três confrontos sem resultados anunciados antes do início das escaramuças. Contudo, há ocasiões em que tudo, ou quase tudo, dá errado. Foi o que ocorreu na cidade de Carson, Califórnia. As lutas exibidas não fizeram jus à categoria na qual se consagrou Eder Jofre, o maior peso galo da história.

Rau'shee Warren (19-3) TKO2 Damien Vázquez (16-3-1).

O perdedor veio de disputa de título mundial e o vencedor é o primeiro desafiante da relação da Associação Mundial de Boxe (AMB). Se você, leitor, pensou como eu, teríamos uma interessante disputa para se alcançar a posição de aspirante real a cinturão universal. Entretanto, não demorou nem um minuto para vermos que Vázquez está sonado. Talvez seja o que o saudoso jornalista argentino e classificador do CMB definiu como vencedor de perdedores.

Warren toureou as cargas que vinham de lá e meteu a esquerda com vontade. O resultado foram dois KD e a certeza que o matchmaker foi enganado pelo cartel e pelo retrospecto do já quase estropiado Vázquez. Ficou claro que a festa acabaria rápido.

Começou o segundo assalto e nova canhota na mandíbula levou o confuso Damien ao tablado. O árbitro nem contou. Ajudou o trôpego derrotado a encontrar sua esquina. É para se perguntar como esse rapaz disputou cinto mundial. Trata-se apenas de um golpeador sem recursos de defesa.

Warren mostrou ser um sólido boxeador. Belíssima linha pugilística e velocidade para esquivar e golpear. Merece uma chance mundialista.

Gary Antonio Russell (18-0) NC1 Emmanuel "Manny" Rodríguez (19-2).

Carteis aparentemente equivalentes. Dois ranqueados fariam o cotejo válido pelo título interino dos galos da AMB. Outro interinato! Não me perguntem o porquê.

Pelo menos nos quase 40 segundos que durou o embate ambos buscaram o triunfo. Uma brutal cabaçada acidental arrebentou o nariz de Rodríguez e fez a árbitra (existe essa palavra?) decretar o Sem Decisão.

A essa altura já havia trocado para o áudio americano porque não me deixaram ouvir - nem me ajudaram a compreender - a entrevista de Rau'shee Warren. Russell estava muito desapontado porque queria a faixa interina para receber a oportunidade de ser rei dos galos da AMB.

Rodríguez mostrou-se conformado. "É algo que acontece.", afirmou. Completou dizendo que espera a revanche contra Russell.

John Riel Casimero (31-4) W12 Guillermo "Chacal" Rigondeaux (20-2).

Foi a segunda defesa do título galo da Organização Mundial de Boxe (OMB) de Casimero. Foi, também, a terceira decepção da noite. A frase usada pelos futebolistas cabe muito bem aqui: o medo de perder tirou a vontade de vencer.

Rigondeaux veio para não ser nocauteado. Ou então, a bomba recebida no capítulo inicial o fez adotar uma estratégia diferente do que realizou nas três lutas anteriores. Fugiu e evitou combater. Às vezes de forma acintosa.

Casimero não se mostrou preparado para um oponente que evitasse a luta. Manteve o controle do ringue mas, exceto no primeiro tempo, nunca esteve perto de derrubar. Perdeu alguns episódios quando foi contra golpeado sem atingir o Chacal. Inclusive, sua frustração ficou evidente quando parou de bater na cintura. Golpes sem preparação na cabeça era o que desejava Rigondeaux.

Nesse ponto, talvez seja interessante escrever sobre a pontuação que entendo deva ser feita pelos juízes. Alguém que entregue o domínio do quadrilátero ao adversário só vencerá o assalto se o atingir com mais socos significativos do que receber. Quando o veterano cubano esquivou, e o fez magistralmente, sem tentar golpear, entregou o round para o campeão. O Boxe exige que sejam conectados murros, não basta girar e evitar as cargas.

Curiosamente, a decisão foi dividida. Os escores foram: 113-115, 116-112 e 117-111. Do sofá marquei 116-112 para o filipino. 

Foto: Boxing Scene