Pressa No Boxe Quase Sempre É Furada

22/02/2021

Por Jorge Luiz Tourinho

SSE Arena em Wembley, Londres. Sábado 20 de fevereiro. Luta final: título europeu dos meio médios da União Europeia de Boxe (EBU) a tradicionalíssima entidade do velho mundo. No ringue: David Avanesyan, o campeão que já disputou cinto mundial, e Josh Kelly Jr, ascendente britânico com apenas 11 combates.

Uma análise prévia me colocou a seguinte dúvida: estaria Kelly pronto ou no momento certo para enfrentar um pugilista do nível do russo? No último ranking da EBU ele já aparecia como desafiante ao cinturão. Contudo, isso pode ter acontecido por duas situações. Na primeira, o próprio organismo o classificou como número um. Na segunda, seu promotor e empresário acertou a disputa. Uma das duas levou seu nome para a posição de desafiante.

O apoderado do inglês é o espalhafatoso magnata Eddie Hearn. Rivaliza com o sócio minoritário do UFC, o obeso Danny White, quem é o mais inconveniente executivo do mundo do esporte. Sempre querendo aparecer nas entrevistas, sempre dando pitaco, querendo ser a estrela que não pode ser. Quem brilha são os boxeadores. Como a transmissão é da empresa do pai dele, vai surgindo na tela muitas vezes em cada evento. Caricato.

A julgar outros cotejos programados por esse mesmo grupo, podemos pensar que foi do Hearn filho a ideia de colocar seu pupilo no fogo. O número de lutadores que ele maneja é grande. Daí, se alguns perderem e se atrasarem na corrida por títulos mundiais, pouca importância tem.

Bem rápido e movediço, Kelly foi tocando e sendo tocado por um rei que deixaria tudo dentro do quadrilátero. Mostrou isso sempre caminhando para a frente e dominando o tablado. A velocidade dos punhos do desafiante acabou não superando a pegada do titular. Mesmo com menos experiência em lutas contra adversários desse patamar, Kelly venceu dois dos cinco capítulos iniciais e Avanesyan os outros três. No sexto, duas quedas e a toalha acabaram com a festa. O reinado continua e Kelly deverá ser movido para a categoria dos médios ligeiros para que não sofra para dar o peso welter. A pressa em colocá-lo diante de alguém da elite dos meio médios se mostrou precipitada. Pressa no boxe quase sempre acaba mal. Avanesyan 27-3-1 e Kelly 10-1-1.

Numa das preliminares que o DAZN exibiu houve a disputa de um desses títulos que não valem nada. Gabriel Valenzuela (23-2-1) triunfou sobre Robbie Davies Jr (20-3) e levou para o México o inexpressivo cinto FIB Internacional dos super leves. O britânico caiu no terceiro e foi marcada uma falta contra o asteca no quarto. Interessante combate. Davies com sua guarda inglesa e Valenzuela com a americana. Estranho que o latino não tenha atirado nenhuma bomba na zona hepática do europeu em 10 tempos. Se a ideia era testar o seu lutador, Hearn deve ter aprendido que mexicanos com cartel equivalente são duros na queda. Para mim, Gabriel dominou visando apenas a cabeça. Marquei 97-92. Fui surpreendido com um 94-94 e dois 96-95.

Na outra, meio médios, Florian Marku (8-0-1) TKO8 Rylan Charlton (6-1-1). A toalha pontificou no oitavo tempo. Charlton vinha sendo dominado e castigado. Valente, não caiu e buscou sempre o revide. Contudo, agiu corretamente seu treinador. O Rei Albanês só perdeu o capítulo inicial e dominava completamente. A queda estava sendo esperada pela equipe da DAZN. Marku exibiu muita força e boa técnica, A arrogância não me parece adequada para um pugilista. Porém, cada qual com seus valores.