Ponce Vs. Ritson foi Boxe de Verdade

Por Jorge Luiz Tourinho

13 de junho de 2021

Felizmente temos possibilidade de acesso ao DAZN no Brasil. Em tempos de valorização de circos e exibições que se utilizam de ringues e luvas de boxe, foi ótimo podermos assistir uma excelente programação de boxe de verdade. A transmissão do evento da Matchroom nos chegou no sábado 12 de junho desde Newcastle, Inglaterra.

Devemos observar a influência do empresário Eddie Hearn. Sua grana pagou uma eliminatória - mais uma - para o título super leve da Federação Internacional de Boxe (FIB). Acabou com a vitória maiúscula de Jeremias Ponce (28-0) sobre Lewis Ritson (21-2) na Arena Vertu Motors. Geração de imagens da Sky Sports britânica.

A força do dono da Matchroom Boxing ficou mais clara quando sabemos que seu boxeador, Ritson, vinha de vitória controvertida. Uma decisão dividida contra Miguel Vazquez em outubro passado na Arena de Peterborough, Inglaterra. Esse triunfo valeu o cinturão Intercontinental super leve da Associação Mundial de Boxe (AMB). Foi na mesma Newcastle que Ritson (de 27 anos) conseguiu sua melhor atuação. Bateu Robbie Davies Jr. em outubro de 2019 numa luta que alguém queria candidata à luta do ano no Reino Unido.

Jeremias Nicolás Ponce tem 24 anos. É argentino de Buenos Aires. Ganhou o título sul americano em 27 de abril de 2019 em decisão dividida contra Leonardo Amitrano. Em 14 de setembro desse mesmo 2019, quebrou a banca ao vencer por pontos o alemão Rico Müller em Berlim e ficar com o cinto da Organização Internacional de Boxe (IBO). Lutou duas vezes em 2020. Venceu facilmente a Ruben Lopez em pouco mais de um minuto e teve que trabalhar bastante para reverter uma queda contra Jonathan Eniz e receber a decisão unânime. Como a Federação Argentina não reconhece a IBO como entidade reitora, sua surpreendente conquista acabará virando fumaça.

Os oponentes enfrentados pelo europeu o colocaram como favorito. Contudo, a atuação de Ponce desfez as previsões. Logo no assalto inicial acertou uma bomba no fígado que fez o britânico se envergar para não cair. Os outros dois rounds seguiram o mesmo script: o argentino cercando e apertando com guarda ativa e esquivando mas recebendo algumas cargas. Mesmo assim venceu ambos. O melhor capítulo de Ritson foi o quarto quando colocou um belo golpe de direita que mostrou ao mundo o queixo confiável de seu adversário. Mais atento, Ponce fez valer sua maior envergadura e levou por 10-9 os quinto e sexto tempos. O combate continuou intenso com trocas de golpes com vantagem para os dois lados, alternadamente.

No décimo episódio, com ambos atirando golpes, um balaço no baço fez desabar o inglês. Algo inusitado em eventos desse nível ocorreu para minha surpresa. A esquina jogou a toalha mas foi desconsiderada pelo árbitro! Mais castigo, outro knockdown. Mais luta quis o mediador. Outra queda e decretado o nocaute técnico.

A coisa me parece mais absurda ainda porque o treinador principal do perdedor é seu pai! Tenho certeza que, mesmo que o regulamento da FIB não permita a desistência do córner, jogar a toalha deve ser entendido com o fim do cotejo. É linguagem universal. Veremos qual será a desculpa...

O triunfo poderá catapultar o bonarense para um confronto financeiramente muito interessante com Josh Taylor.

Preliminares exibidas:

penas - Thomas Patrick Ward (30-0-1) W10 Edy Valencia Mercado (17-6)

Ward não tem pegada mas esbanja categoria e mobilidade. Valencia é mexicano e gosta de praticar o toma-lá-dá-cá. Foi dominado amplamente pela maior técnica do inglês. Mesmo assim conseguiu uma queda no quinto assalto quando o golpeou numa esquiva. Os juízes viram: 97-93 e 98-92 (2). Marquei 97-92.

médios ligeiros - Cyrus Pattinson (1-0) KO2 Yoncho Markov (4-3)

Pattinson não foi classificado para as Olimpíadas de Tóquio e iniciou na área rentada. Triunfo fácil diante de um búlgaro apenas brigador. Golpes no baço provocaram as duas quedas que fizeram acontecer o nocaute.

pesados - Alen Babic (7-0) TKO3 Damian Chambers (11-2)

Você gosta de trocação insana? De impetuosidade doentia? De agressividade espantosa? Taí o que você queria! Alen Babic, o Selvagem. Foi difícil arranjar oponente para ele. Chambers é um cruzador acima do peso que tentou boxear a fera. Não obteve êxito. Caiu no primeiro e no terceiro rounds. O árbitro parou logo após a segunda queda fruto de cruzado de esquerda na cabeça. No Reino Unido existe a decisão RSC mas para nós é TKO.

pesados - Solomon Dacres (2-0) TKO4 Álvaro Terrero (5-12-2)

O vencedor é britânico e gigantesco. Forte e móvel promete bastante mas precisa melhorar a defesa. Sua esquerda está quase sempre baixa e o apenas valente espanhol colocou alguns golpes por ali. Não houve KD. Terrero bambeou depois de uma combinação em cima e o mediador decretou o que o apresentador cabeludo chamou de RSC.

meio médios feminino - April Hunter (4-0) W4 Klaudia Vigh (3-28-1)

Domínio total da britânica que tem muito que crescer. Vencer apenas por pontos uma adversária limitadíssima, embora valente, deve ser motivo para a análise de seus treinadores. Para mim 40-36. O árbitro-juiz deu 39-37. Talvez um de nós tenha se distraído...

Foto: Bad Left Hook