Lembrando Sidnei Dal Rovere
Por Jorge Luiz Tourinho
21 de maio de 2021
Carreira destacada no amadorismo com títulos paulista e nacional e membro das equipes brasileiras que disputaram Jogos Pan-Americanos e Olimpíada. Campeão brasileiro e sul-americano dos penas. Esse é Sidnei Dal Rovere (19-2).
Nascido em São Paulo, SP, foi levado para o boxe pelas mãos do pai, também lutador. Começou cedo a competir. Com apenas 15 anos (nasceu em 20 de março de 1959) sagrou-se campeão da tradicional Forja dos Campeões, o mais importante torneio amador do Brasil! Era o ano de 1975. Nesse mesmo ano foi campeão brasileiro. Já havia completado 16 anos! Sua qualidade acima da média estava provada. Hoje existe a orientação para que adolescentes não joguem contra adultos.
Continuou no circuito amador paulista até a convocação para a seleção nacional que foi aos Jogos Pan-Americanos de San Juan, Porto Rico, em 1979. No ano seguinte representou o Brasil nas Olimpíadas de Moscou. Chegou até as quartas de final e voltou com o sexto lugar entre os penas. Se houvesse mais atividade pugilística por aqui, seria a hora de tornar-se profissional.
Um pouco mais tarde do que acontece em países com muitos promotores e eventos, entrou na área rentada. Era o ano de 1985. Depois de vencer suas quatro primeiras lutas, conquista o título brasileiro dos penas na quinta! 29 de setembro de 1985, Ginásio do Ibirapuera. Seu oponente, José de Paula, tinha quase dez vezes mais combates que ele.
As dificuldades para realizar eventos o levou a rodar o mundo. São Paulo, Araraquara, Sorocaba, França, Curitiba, Paraguai, Salvador, foram praças que viram seus triunfos. Em 10 de junho de 1988, no Ginásio Antônio Balbino em Salvador, venceu Miguel Angel Francia para ser o campeão sul-americano dos penas.
Manteve o cinturão continental no dia 14 de agosto de 1988. Um nocaute técnico sobre Ernesto Quintana em Londrina, Paraná. O palco foi o Ginásio de Esportes Professor Darci Côrtes. Uma vitória mais o levou ao cartel de 17-0. Aliado ao cinturão da FESUBOX chamou a atenção dos apoderados do excepcional super pena Azumah Nelson, campeão mundial do Conselho Mundial de Boxe.
Se pudéssemos fazer aqui os campeões do mundo, a empreitada talvez fosse recusada. Nelson tinha um retrospecto impressionante com nomes como Wilfredo Gómez e Marcos Villasana na relação de vencidos. Tinha 28-1 quando subiu ao ringue contra Dal Rovere em Accra, Gana, no dia 10 de dezembro de 1988. O favorito continuou como rei dos super penas.
Muito tempo mais tarde recebi a informação que setores da imprensa mexicana criticaram a contratação do brasileiro. Queriam que o primeiro desafiante Mario Martinez tivesse o privilégio de enfrentar o maior ídolo daquele país africano. Isso só ocorreu em fevereiro do ano seguinte com vitória de Nelson.
De volta ao Brasil, manteve outra vez o cinto pena sul-americano. Nelson Miranda Cosme foi nocauteado no quinto tempo em 15 de setembro de 1989. Sua próxima luta só aconteceu em 20 de abril de 1991. Acabou derrotado para José Ramón Soria na Argentina em contenda válida pela faixa continental dos penas. Fez mais uma peleja em 1992 e pendurou as luvas.
Mata-cobras? Swings? Revoados? Toma-lá-dá-cá maluco? Trocação insana desaconselhável para cardíacos? Nada disso. Tinha excelente linha pugilística. Esquerda à frente, jabeando para marcar a entrada no raio de ação, movimentação constante e combinações que incluíam muitos ganchos de esquerda na zona hepática.
Graduou-se em Educação Física. Virou professor no Estado de São Paulo. Tem um doutorado em Pedagogia. Outra particularidade extraordinária em se tratando de boxeadores. Embora minha memória já não seja a mesma, não lembro de nenhum brasileiro que tenha um título desses. Aliás, só me recordo de um japonês que foi campeão nacional que o tivesse.
Casado e pai de dois filhos. Ainda dentro da nobre arte foi treinador, comentarista de boxe da Globo e Rede TV e colunista do Terceiro Tempo.
Vida longa cheia de saúde para o grande Sidnei Dal Rovere!
Foto: Terceiro Tempo - UOL