Lembrando de Luiz Ignácio, o Luizão

Jorge Luiz Tourinho
22 de Maio de 2025
Luiz Ignácio, o Luizão, nasceu em 22 de maio de 1929. Não encontrei a grafia certa já que alguns escrevem Luiz Inácio. Sem outro sobrenome.
Luizão era ferroviário da Estrada de Ferro Sorocabana onde começou no início da década de 1950. Seu porte físico e sua força fizeram com que seus colegas o incentivassem a praticar Boxe.
Eram tempos em que haviam promoções envolvendo profissionais quase todas as semanas, principalmente em São Paulo. Os jornais tinham jornalistas que, mesmo que não fossem especialistas na modalidade, a cobriam. Hoje os poucos que se julgam expertos no esporte dos punhos não conseguem vaga nem como colaboradores (sem vínculo nem salário) em nenhum lugar. Temos que publicar em sites e blogs pessoais.
Em 1953 entrou na academia de José Aristides "Kid" Jofre, pai da lenda Eder Jofre. Não demorou para brilhar e se tornar um dos principais boxeadores amadores brasileiros na divisão dos meio-pesados (81 kg), treinando no São Paulo Futebol Clube. Outro treinador foi Higino Zumbano, creio que cunhado do genitor do grande Eder.
Sua velocidade e pegada o levaram a representar o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 1955 na cidade do México. Notavelmente, tornou-se o primeiro medalhista de ouro desses Jogos. Os rivais vencidos foram o mexicano Lorenzo Valles que tombou no primeiro assalto e o argentino Abel Escalante por pontos. Ressalto que apenas Luizão e o triplo saltador Adhemar Ferreira da Silva voltaram com ouros na bagagem!
Apesar de estar classificado para as Olimpíadas, preferiu seguir carreira na área rentada. Nos anos 1950, os pugilistas amadores não recebiam dinheiro nem salário como acontece hoje em dia. Por causa disso, valorizo muito mais a medalha de Servílio de Oliveira que as que vieram faz pouco tempo. Eram realmente amadores e Luizão tinha que ajudar a si e a família – tinha 16 irmãos!
A estreia foi em 20 de abril de 1955. O Ginásio do Estádio do Pacaembu foi testemunha do triunfo por KO1 sobre Enrique Pombo. Talvez nessa ocasião tenha se forjado o apelido "O Martelo Negro".
Suas vitórias o levaram à popularidade e à fama! Além das qualidades pugilísticas, tinha carisma e a todos atendia com entrevistas alegres e curiosas.
Seu cartel final foi: 52 lutas, com 37 vitórias (20 por nocaute), 11 derrotas e 4 empates. Sem medo de errar, o considero o melhor meio-pesado brasileiro de todos os tempos. Vejamos alguns cotejos do Luizão.
Com apenas 7-0 foi jogado no ringue com o então campeão argentino Atílio Natálio Caraúne que tinha antes da luta 54-4-1! Não haviam matchmakers nem dirigentes zelosos para que se fizessem combates com equivalência. Isso é coisa moderna no Brasil, aparentemente esquecida depois que Luiz Cláudio Boselli teve que se afastar do nosso esporte. Ainda assim um empate em dez rounds aconteceu. No mesmo Ginásio do Pacaembu no dia 26 de agosto de 1955.
Mais uma vez teve a mão levantada antes de arrebatar o título brasileiro (só havia uma entidade reitora, a CBP Confederação Brasileira de Pugilismo). Dia 11 de novembro de 1955. Nocaute técnico sobre Nélson de Andrade (22-6) no décimo primeiro (eram 12 tempos).
Após a revanche com Caraúne na qual venceu pela via do sono em oito episódios, manteve o cinturão nacional contra Paulo Sacomã (29-10-3) também pela via do clorofórmio em onze períodos.
Três vitórias mais e se deu a perda da invencibilidade. Sua condição de ídolo talvez tenha sido o que os observadores classificaram de subestimação do campeão chileno Humberto Loayza (21-13-2). Esquecendo da defesa foi para o toma lá dá cá e caiu fulminado num nocaute devastador no assalto inicial. No dia 4 de maio de 1956. O curioso é que havia vencido esse mesmo Loayza na sua luta anterior.
Não encontrei indicação médica que sustente o fato, mas creio que essa luta marcou o início da demência pugilística que passou a acompanhá-lo e se fez presente em alguns seguintes combates. Mostrar-se sensível a golpe na cabeça era o sintoma da doença.
Três triunfos em série e boxeou pelo seu cinto brasileiro. Manteve-o com um TKO4 sobre Waldemar Adão (12-2) em 9 de novembro de 1956.
Sofre outro nocaute em 29 de março de 1957 pelas mãos de Win Snoek (30-9-2). No décimo round.
Cinco vezes vencedor é convidado para o seu maior momento em termos de mídia mundial. Enfrentou o lendário Archie Moore, com 166-21-8 na ocasião, no Ginásio Estadual do Ibirapuera em São Paulo, em 18 de janeiro de 1958. Saiu perdedor aos pontos em dez capítulos.
Em seguida, tentou o cinto sul-americano contra Dogomar Martínez em 18 de março de 1958 no Estádio Centenário em Montevidéu, Uruguai. Foi derrotado por KO no décimo quarto tempo.
Dois triunfos e um empate e partiu para a revanche contra Dogomar Martínez, agora com 47-2-5. Desta vez sagrou-se campeão da América do Sul dos meio-pesados. 16 de janeiro de 1959. Ginásio do Ibirapuera. Vitória por pontos em 15 períodos.
Vencedor sobre o iniciante Gregório Peralta (6-0-1) e parte para a trilogia com Dogomar. No cenário oriental acabou perdendo a faixa continental aos pontos. Estávamos no dia 9 de maio de 1959. Jornalistas uruguaios teriam dito aos brasileiros que Luizão havia perdido para os jurados.
Uma vitória por TKO e uma derrota por pontos se seguiram. Luizão veio ao auditório da TV Rio e foi nocauteado pelo mesmo Peralta que vencera antes. No dia 23 de agosto de 1959.
No dia 6 ou 7 de outubro de 1958 sofreu um episódio de racismo quando foi impedido de entrar para dançar no Grêmio Recreativo de Ourinhos. A repercussão só aconteceu pois se tratava do Luizão.
A partir daí começou a ser colocado com boxeadores quase que iniciantes. Venceu quatro deles para cair no primeiro round para Horácio Ferrari que tinha incríveis 0-5 antes da luta! Dia 1 de julho de 1960.
A derrota (KO1) para Válter Rodrigues em 14 de outubro de 1960 o fez perder o cinturão nacional no Ginásio do Ibirapuera.
Dois triunfos e um empate o levaram a uma revanche com Aparecido dos Santos (então com 6-10-3) e o título brasileiro ficou com Aparecido. Ginásio do Ibirapuera em 18 de maio de 1962.
Reconquista e perde o cinto brasileiro em combates com Hiram Campos. Ambos no auditório da TV Rio em 14 de outubro e 9 de dezembro de 1962.
Sua última batalha foi contra Andrés Selpa (102-33-21) no Palácio Peñarol em Montevidéu em 16 de janeiro de 1963. Luizão abandonou após o sexto tempo. A lesão provocou o fim da carreira e do trabalho na Sorocabana e na Secretaria de Transportes de São Paulo.
Com os títulos conquistados, Luizão enfrentou dificuldades após pendurar as luvas. Faleceu em 2 de agosto de 1977, aos 48 anos, pobre, quase esquecido no Hospital Sorocabana em São Paulo. Uma estória muito triste, entre tantas que, infelizmente, o Boxe nacional registra.
Que Deus possa iluminar os nossos dirigentes para que não esqueçam nem deixem cair no esquecimento os guerreiros do passado.