Lembrando de Juarez de Lima

07/05/2025

Jorge Luiz Tourinho
7 de Maio de 2025

Juarez de Lima foi um notável pugilista brasileiro quase invisível nos nossos conturbados tempos. Nasceu em Frei Paulo, município pouco habitado no agreste de Sergipe, em 3 de junho de 1942. Faleceu em maio de 2009 não sei em que condições.

Sem ter a carreira impulsionada por um promotor, coisa que na atualidade também não temos, acabou tendo que aceitar lutas com os melhores meio-médios, médios ligeiros e médios do planeta.

Dessa forma, acabou com um cartel de 47-26-5 com apenas 3 vitórias pela via do clorofórmio.

Como muitos nordestinos que não encontram oportunidades nos seus Estados, aventurou-se para o Rio de Janeiro. Nesta capital, iniciou sua carreira profissional em 20 de outubro de 1963. Curiosamente, sua estreia, um empate em seis assaltos com Rosalvo Tavares, faria poucos imaginarem que seria um grande boxeador. Foram testemunhas aqueles que frequentaram o auditório da TV Rio no Rio de Janeiro.

Talvez o extraordinário jornalista Paulo Roberto Godinho que também atuou como juiz, boxeador, treinador e dirigente sempre com destaque possa lembrar de algo que não está nos livros de Boxe.

Quatorze triunfos em série após o empate fizeram os olhares mudarem. Em 4 de outubro de 1964 conquistou o título brasileiro dos meio-médios. Derrotou o então invicto Edmundo Leite no auditório da TV Excelsior em São Paulo. Quero crer que as décadas de 1960 a 1970 tenham sido a época de ouro do nosso pugilismo. Só havia uma entidade reitora: a Confederação Brasileira de Pugilismo (CBP) criada no segundo período Vargas para organizar os esportes de lutas.

A herdeira da CBP, a CBBoxe abandonou no orfanato o Boxe profissional para se dedicar ao amadorismo e ao amadorismo marrom com a verba que recebe do COB. O CNB (Conselho Nacional de Boxe) adotou o profissionalismo, mas não vejo seu ranking há muito tempo. Detém o monopólio de informar os resultados havidos no Brasil ao indispensável site Boxrec, mas não vi o evento de Sorocaba que teve a importante vitória de Andrés Gregório lá registrado. Saudades de Luiz Boselli…

Uma vitória mais e teve a oportunidade de tentar o título Sul Americano em Buenos Aires. O mítico estádio Luna Park sediou em 21 de novembro de 1964 o empate de Juarez com Ramón La Cruz que tinha 56-2-10 e que anos depois lutaria por cinto universal.

Duas vezes mais teve a mão levantada nos auditórios das TV mencionadas para acertarem a revanche com La Cruz pelo mesmo cinturão. Dessa feita a decisão unânime após doze tempos sorriu para o platino.

Dois triunfos e dois empates antes da trilogia com La Cruz pelo cinto da FESUBOX. Em 27 de novembro de 1965 Juarez quebrou a banca e saiu do Luna Park com a faixa dos meio-médios ao final de doze capítulos.

Em 11 de fevereiro de 1966 manteve o cinto brasileiro vencendo José Assunção em doze episódios na TV Excelsior. Decisão unânime.

O título sul americano abriu as portas para o mundo e, na falta de promotor por aqui, transformou-se num saltimbanco dos ringues. Enfrentando sempre os melhores pugilistas locais teve muitas dificuldades.

Houve um quarto combate com Ramón La Cruz quando o argentino recuperou o cinturão da América do Sul. Em 4 de novembro de 1967, no Luna Park, Juarez foi nocauteado no sexto round. Ramón já tinha mais de 70 vitórias.

Suas andanças o levaram a vitórias no Japão, em Porto Rico, França, Uruguai e Nova Iorque. Aí então foi colocado no quadrilátero com o francês Jean-Claude Bouttier invicto com 36-0! O sergipano quebrou a banca novamente em Paris. Bouttier disputaria depois o cinto mundial com Carlos Monzón.

Foi perdendo mais que triunfando que Juarez voltou ao Brasil. Brasília, São Paulo, Bauru e Salvador antes de nova experiência no estrangeiro. Em 21 de fevereiro de 1976 fez o que nenhum brasileiro pode fazer: derrotou o extraordinário Miguel de Oliveira (tinha 42-2-1) por pontos em decisão dividida em São Paulo. Depois desse feito viajou outra vez mais para colecionar tropeços.

Entre outros oponentes de renome que venceu estão: Bennie Briscoe, Vicente Rondón, Tom Bogs e Nessim Max Cohen. Retirou-se aos 36 anos em 1979.

Espero que outros jornalistas mais jovens possam escrever mais sobre esse gigante de Frei Paulo. E que Deus ilumine nossos dirigentes para que os grandes do passado não sejam esquecidos.