Lembrando de João Henrique

30/04/2025

Jorge Luiz Tourinho

30 de Abril de 2025

João Henrique "Cobrinha" da Silva é um dos grandes nomes do Boxe brasileiro. Mesmo sem ter-se sagrado campeão mundial, é considerado um dos três maiores brasileiros pelo Conselho Mundial de Boxe.

Nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará, no dia 1º de janeiro de 1946. Assim como todos os pugilistas que se destacaram foi em São Paulo que sua coragem e suas virtudes foram lapidadas para os títulos conquistados.

Em 1962 venceu o então tradicional torneio da Federação Paulista de Pugilismo "Forja dos Campeões" entre os leves.

No ano seguinte, conquistou a medalha de prata nos Jogos Pan Americanos de 1963 realizados em São Paulo, SP.

Representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, onde venceu dois oponentes para ficar nas quartas de final diante do ganês Eddie Blay que acabou perdendo na semifinal.

Passou ao profissionalismo em 29 de novembro de 1964 com um nocaute técnico no quarto assalto sobre Armando Caldas no auditório da TV Excelsior. No Estado de São Paulo triunfou sobre mais uma dúzia de rivais para ser levado à disputa do título nacional dos super leves. Um nocaute no sexto capítulo sobre Jorge Sacomã (então com 20-5-1) o levou ao cinturão.

Cinco vitórias mais e os adversários cada vez mais exigentes levaram a um empate com Eddie Perkins na época com o cartel de 47-13-2. Era o dia 19 de dezembro de 1967.

Oito vezes teve a mão levantada antes da revanche com Perkins, agora com 53-13-3. A vitória por pontos em dez tempos proporcionou a primeira das quatro lutas por cinto universal. O favoritismo do argentino Nicolino Locche, O Intocável, era imenso. Tinha incríveis 94-2-14! O famoso Luna Park em Buenos Aires sediou o confronto e João Henrique conheceu a derrota (por pontos) na sua vigésima nona luta.

O jeito agora foi ganhar uma faixa regional para mantê-lo no ranking mundial. Após uma eliminatória, o título que Locche deixou vago passou para as mãos do Cobrinha quando venceu Juan Alberto Aranda (34-4-11) no dia 11 de dezembro de 1969 por abandono após o oitavo episódio.

Outros quatro oponentes foram vencidos antes da manutenção do cinturão sulamericano. O KO3 sobre Mario Molina (30-9-5 antes do cotejo) no dia 22 de dezembro de 1970 catapultou o brasileiro para o segundo combate por título mundial. Pela segunda vez o cinto do WBC escapa diante do sólido italiano Bruno Arcari que tinha, antes do confronto, 43-2. O PalaEur em Roma viu a decisão unânime para seu compatriota.

Seis combates vitoriosos o levaram à revanche com o ainda campeão Arcariagora com 52-2. Foi no Pallazzo Dello Sport em Gênova que João Henrique conheceu o tropeço pela via do sono. No décimo segundo round o árbitro Harry Gibbs encerrou as escaramuças. Nos idos de 10 de junho de 1972 as lutas por faixas ainda eram em quinze assaltos.

Quatro vitórias depois, o Cobrinha foi levado para a Espanha para a sua última experiência mundialista. O nocaute sofrido ante Perico Fernández (32-3-9) no nono período em 19 de abril de 1975 o fez abandonar os ringues.

Fez mais quatro combates em 1979 contra brasileiros e encerrou sua carreira com 48-4-1.

João Henrique foi casado com Dagmar Blota e tiveram um filho: João Henrique da Silva Filho. Depois de lutar estudou Educação Física e atou como professor.

Um maldito grave acidente de ônibus na Rodovia Mogi – Dutra perto de Arujá (SP) em 11 de março de 1982 levou o grande Cobrinha à morte por hemorragia interna no dia seguinte. Contam os sobreviventes que o excepcional boxeador agora aposentado ajudou a resgatar outros passageiros. As fraturas nas costelas não o impediram de mostrar ao mundo a coragem, a bravura e o altruísmo típicos dos boxeadores. No funeral esteve presente seu ex-oponente que virou amigo, Bruno Arcari.

Feito pelo ROUND 13, há um vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=RGA7ruE6Dhw

Que Deus ilumine os dirigentes do nosso Boxe para que não esqueçam nem deixem no esquecimento este e outros heróis do passado.