Lembrando de Everaldo Costa

Jorge Luiz Tourinho
14 de Maio de 2025
Everaldo Costa Azevedo nasceu em 24 de julho de 1944 em Jacuípe, um pequeno Município com menos de seis mil habitantes na Zona da Mata de Alagoas. Como muitos nordestinos que não encontram oportunidades para trabalhar e/ou estudar nas suas regiões, resolveu migrar para o Rio de janeiro.
Foi na ex Capital Federal que começou sua notável carreira com duas derrotas. Os tropeços diante dos então invictos (com 2-0) Júlio Barbosa (TKO4 no dia 3 de novembro de 1963 no auditório da TV Rio) e José Rubinelli (L4 no auditório da TV Excelsior SP em 26 de janeiro de 1964) dariam o futuro de preliminarista para Everaldo.
Nada disso! Com o cartel de 19-4-5 resolveu morar na Argentina. Na ausência de grandes promotores, Costa Azevedo se transformou em mais um saltimbanco do Boxe. Lutou em 17 países! Subiu ao ringue com grandes nomes como Joergen Hansen, Rocky Fratto, Billy Backus, Gianfranco Rosi, Marijan Beneš e o medalhista olímpico de bronze Mario Guilloti.
No país vizinho fez 38 combates com 15 empates. Na maioria das vezes, na era do Boxe sem televisão, os empates serviam para poupar o boxeador local da derrota. De qualquer forma, naquele tempo, o empate não era mal visto pelos dirigentes.
Nesta etapa, 1966 a 1971, pode enfrentar o extraordinário Nicolino Locche, "O Intocável". Estava com 65-2-13 aquele que mais tarde seria campeão dos super leves da WBA e um dos mais sólidos campeões mundiais que teve a Argentina.
Sua carreira de desenvolveu entre 1963 e 1982. Como super leve e meio-médio colecionou o cartel de 128 lutas, com 79 (20 KO)-22-26. O encerramento de sua carreira foi com uma vitória por nocaute sobre o campeão europeu e francês dos meio-médios, Alain Marion, na França. Marion encerrou sua caminhada com apenas três derrotas, duas das quais foram para Azevedo.
De 1967 a 1972, manteve uma série invicta de 40 lutas. Foi levado à segunda posição do ranking do Conselho Mundial de Boxe WBC. Um pouco mais tarde, em 1974, ao primeiro posto da Associação Mundial de Boxe WBA.
Com estas credenciais foi levado à primeira disputa de cinturão universal. Treinava em Viareggio sob a supervisão do técnico Raul Bertuccelli e do argentino Louis Agostini. Viareggio foi considerada uma espécie de amuleto pois foi nela a sua primeira luta na Itália. Quis o destino que o então rei dos super leves WBC fosse o excepcional italiano Bruno Arcari (55-2). O brasileiro amargou a derrota por pontos em quinze assaltos numa decisão unânime. Data: 2 de dezembro de 1972. Local: Turim, Itália.
Foi este mesmo Bruno Arcari que esteve no funeral de João Henrique "Cobrinha" da Silva vencido por ele em peleja válida pelo mesmo título dos super leves WBC. Um verdadeiro cavalheiro que o Boxe forma aos montes.
Em 1972 iniciou sua etapa final. Passou a residir em Pavia e, em 1982, naturalizou-se italiano trocando a Argentina pela Itália. Chegou a disputar o título argentino dos meio-médio contra Gianfranco Rosi em 15 de outubro de 1982, mas sucumbiu no sétimo capítulo.
Depois de Arcari, engatou mais uma sequência de vitórias e empates e alguns tropeços. Já com 71-14-25, conseguiu a segunda e última chance de faixa mundial. Em 13 de setembro de 1977 enfrentou o campeão Carlos Palomino (22-1-3) pelo título mundial dos meio-médios do WBC em Los Angeles. Alguns jornalistas, tais como Chico Vejar e Gil Clancy, consideraram a decisão marota e o grande Palomino disse não ter gostado de sua própria atuação. O fato é que manteve seu cinturão com uma decisão unânime em quinze tempos.
Após essa luta, Everaldo enfrentou o ex-campeão dos meio-médios Billy Backus em Syracuse, Nova Iorque. O árbitro marcou a luta como vitória do brasileiro por 7 a 5, mas os outros dois juízes discordaram e fez-se o empate de alguma forma. Por aqui podemos ver um pouco de como foram evoluindo as decisões até chegarmos às papeletas. As quedas pouco valiam em 77...
Everaldo Costa Azevedo é lembrado como um dos grandes nomes do boxe brasileiro, destacando-se por sua técnica refinada, velocidade na movimentação, habilidade defensiva, uso constante do jab de esquerda e pela resiliência. Um esgrimista. Não sou eu que afirmo, foram colegas da imprensa italiana e do Los Angeles Times. Inclusive, o jornal da Califórnia publicou artigo chamado "Azevedo no actor in the ring", escrito por Jack Hawn, em 12 de setembro de 1977. Diante do pouco nome nos Estates, o diário fez questão de classificá-lo como desafiante de verdade.
Espero que esse artigo possa motivar os nossos dirigentes a não esquecerem nem deixar cair no esquecimento os valorosos guerreiros do passado.