King Kong Ortiz saiu da confusão com um nocaute técnico providencial
Jorge Luiz Tourinho
2 de janeiro de 2022
Luis Ortiz (33-2), aos 42 anos, acabou saindo de Hollywood, Flórida, como o desafiante da Federação Internacional de Boxe (FIB) ao título mundial dos pesados. Dessa vez, vinha atrás nas papeletas até conectar, no sexto assalto, um gancho de esquerda providencial. Foi o suficiente para abalar seu oponente Charles Martin (28-3-1). Uma enxurrada de golpes o levou à lona logo depois. Voltou para ser castigado e derrubado outra vez. Foi o suficiente para ser decretado o TKO6.
Martin surpreendeu o favorito e os analistas com seu boxe metódico. Sem aceitar trocas francas venceu todos os cinco rounds pontuados, na minha opinião. Conseguiu dois knockdowns no primeiro e no quarto tempos. Parecia que infringiria nova derrota ao veterano cubano. Contudo, Ortiz mostrou, na prática, a famosa máxima: no pugilismo um bom soco pode mudar a panorama da luta.
Estavam presentes a esposa e os filhos do vencedor. Confesso que não gosto da ideia de se levar crianças para noitadas de Boxe. Depois do combate o King Kong revelou que ter encarado um canhoto como ele foi um complicador. Creio que a idade já cobrou seu preço ao grande cubano. Não exibiu a velocidade para encurtar a distância contra um adversário bem maior. Achou o triunfo mas não quer dizer que isso será uma constante. Ainda mais contra rivais top-15.
O evento do Premier Boxing Champions (PBC) foi um sucesso que marcou o ano que entrou. Porém, não sei se Luis Ortiz será levado ao ringue para disputar o cinturão com o vencedor de Oleksandr Usyk e Anthony Joshua. Ele conquistou o lugar de primeiro desafiante da FIB mas isso pode não significar nova chance mundialista. Pelo menos de imediato. Os promotores querem, e vão fazer, um combate milionário de Usyk ou Joshua com Tyson Fury. Se esse mantiver o cinturão do Conselho Mundial de Boxe (CMB) contra Dillian Whyte. Caso perca, serão outros quinhentos e aí Ortiz poderá entrar nas equações.
Preliminares exibidas pela Fox Sports:
Pesados - Frank Sanchez (20-0) W10 Christian Hammer (26-9)
Cotejo morno que não empolgou nem a numerosa torcida cubana presente ao Seminole Cassino. Sanchez se conformou em ir vencendo capítulo após capítulo sem se expor nem buscar decidir o confronto. Hammer também se portou sem nenhuma volúpia para ameaçar as vitórias parciais do caribenho. Nos dois últimos episódios se pode ver pessoas nos lugares mais caros do local conversando entre elas e pelo telefone.
A monotonia foi premiada com os três juízes marcando 100-89. Anotei 100-90 porque a queda contra o romeno-alemão foi resultado de um golpe de judô. Não caiu por receber soco. O comentarista Servílio de Oliveira foi feliz ao considerar que falta dinamite nos punhos do vencedor. Agregaria, se pudesse, que falta punch aos dois. Saúl "Canelo" Álvarez esteve presente para apoiar seu companheiro de ginásio, Sanchez. Deve ter se decepcionado por ele ter percorrido toda a distância.
Pesados - Jonathan Rice (15-6-1) W10 Michael Coffie (12-2).
Uma revanche que foi mais ou menos igual ao confronto anterior que também teve a vitória de Rice. Mesmo sendo gigantesco, se impôs com maior movimentação e variedade de golpes. Se algum empresário quiser saber se seu pupilo pode chegar no topo da divisão mais charmosa do pugilismo, então deverá vê-lo triunfar contra Rice. Coffie é outro gigantesco peso pesado. Sobra saúde e força mas lhe faltam mais virtudes que o levem aos lugares mais altos dos rankings mundiais. Principalmente velocidade para atacar.
A decisão unânime se deu com os escores 97-93 (2) e 99-91 (com o qual coincidi).
Pesados - Ali Eren Demirezen (15-1) TKO8 Gerald Washington (20-5-1).
Outra luta morna. Teve o domínio do atual décimo-quarto da Organização Mundial de Boxe (OMB) até que a esquina do perdedor pediu o fim das escaramuças. O vencedor tem que ser observado daqui para a frente para se saber se pode e deve estar na lista de desafiantes da OMB.
Pesados - Victor Faust (9-0) TKO2 Lago Kiladze (27-6-1).
Combate eletrizante que me pareceu ter sido interrompido cedo demais pelo mediador Samuel Burgos. Os dois vieram dispostos a sair com o triunfo pela via rápida. No primeiro round Faust derrubou, foi derrubado e voltou a derrubar. Na volta para o segundo, Kiladze derrubou e foi derrubado. Deve ter entendido o árbitro que ele não tinha mais condições de seguir. Decisão que desagradou a plateia e o declarado perdedor. O PBC vai armar uma revanche porque a galera ficou de pé durante o tempo em que houve ação.
Leves - Frank Martin (15-0) TKO4 Romero Duno (24-3)
O apelido da vencedor é Fantasma. Realmente é muito habilidoso e tem pimenta nos punhos. Outro nome que o PBC levará a disputar cinto importante. Foi a vitória convincente sobre um duro e qualificado oponente.
Martin faz parte da equipe de Errol Spence Jr. e superou com brilho os problemas trazidos pelo filipino. Duas quedas fizeram o córner de Duno abandonar.
Pesados - Lenier Peró (6-0) W8 Geovany Bruzon (6-1)
Duelo emotivo entre invictos cubanos que foi a melhor luta da noitada. Peró fez da sua maior experiência no amadorismo a arma para superar um rival muito bom. Ambos buscaram desde o começo e foram se alternando no domínio dos assaltos. Merecem novas oportunidades porque tem muitas qualidades.
As papeletas foram todas para Peró. 77-75 e 78-74 (2).
Imagem: www.ringtv.com