Joseph Parker venceu revanche e fica na fila de espera por título mundial

18/12/2021

Jorge Luiz Tourinho

18 de dezembro de 2021

A capacidade de aguentar pancada e ter dinamite nos punhos criam interessantes personagens no mundo do Boxe. É o caso de Dereck Chisora (32-12). Fortíssimo, vai caminhando pra cima de seus adversários com a guarda toda vazada. Confia no seu queixo de granito e na pancada devastadora que pode desferir com as duas mãos. Dá espetáculo qual seja o resultado.

Contudo, diante de qualquer um dos top 15 dos pesos pesados isso não basta. Terá que contar com a sorte de acertar uma bomba que pode modificar o panorama da luta. Ou com o julgamento de juízes que achem que andar para a frente deve dar a vitória parcial em cada assalto.

Hoje, em Manchester, Reino Unido, pudemos assistir o que talvez seja a última apresentação do britânico Chisora. Fez a peleja final contra Joseph Parker (30-2). Perdeu para um ex-campeão mundial que defendeu seu cinturão Intercontinental da Organização Mundial de Boxe (OMB).

Valente como muitos boxeadores, resistente como poucos, foi escovado por um experimentado oponente. Parker foi saindo, esquivando e batendo aproveitando a guarda vazada - a esquerda baixa e a direita sempre engatilhada para bater. Conectou todos os socos possíveis. Diretos, uppercats, ganchos e cruzados foram desferidos e atingiram o bravo perdedor. Produziram três quedas. Nos rounds quatro, sete e oito.

Na base da raça e da coragem, o inglês venceu poucos tempos na minha opinião. A decisão foi unânime mas com escores que me surpreenderam. Ainda mais porque houve três knockdowns. Enfim, marcações diferentes das nossas acontecem em todos os eventos. Não serei eu a classificar como ladrões os juízes que viram diferente de mim. As papeletas foram, salvo engano, 116-110, 115-111 e 114-112. Pontuei 117-109 para o neozelandês.

O grande vencedor acabou sendo o promotor e empresário Eddie Hearn. Fez o cotejo com dois pugilistas contratados pela Matchroom cujo vencedor e campeão Intercontinental OMB poderá ser indicado para pegar o campeão mundial que também fará parte de seus quadros. Sua empresa tem contrato com Oleksandr Usyk e com Anthony Joshua. Um deles sairá como rei dos pesados AMB, FIB e OMB na revanche.

Preliminares exibidas pela DAZN.

Cruzadores - David Nyika (2-0) TKO1 Anthony Carpin (5-7-2)

Vitória impressionante do novato Nyika. Excelente linha e rapidez para bater. Será programado para ir crescendo dentro da Matchroom. Carpin nada pode fazer a não ser tentar fugir.

Pesados - Alen "Savage" Babic (10-0) KO6 David Spilmont (11-8)

Esse Babic é aquele que parte para cima para golpear e ser golpeado. Quem gosta de trocação insana é o pesado a ser acompanhado. O francês Spilmont enganou com seu corpo gordo. Tem técnica e quase provocou a zebra da noite. Um contragolpe no segundo capítulo colocou o croata nos calcanhares e mostrou que ele não é tão selvagem como pensa.

Cansado, após sofrer a segunda queda no sexto, David resolveu ficar na lona. Babic precisa melhorar bastante antes de se aventurar a fazer dez assaltos. Boxe não é só bater. Tem-se que evitar receber os murros que vem do outro lado.

Super médios - Lerrone Richards (16-0) W12 Carlos Góngora (20-1)

Para mim foi a surpresa da tarde-noite. Zebra seria exagero. O equatoriano radicado nos Estates era o favorito. Acabou surpreendido por um escorregadio britânico que lhe tomou o cinto da IBO - Organização Internacional de Boxe.

O que estranhei foi a decisão dividida. De novo vi outra luta... Richards deve ser um rato de academia. Que noção de distância! Como não tem pegada se moveu para ficar na longa distância e explorou muito bem sua maior envergadura. Não tentou nocautear. Contentou-se em golpear mais e com os mais importantes socos construiu o triunfo.

Góngora demorou para apertar e tentar sufocar. Ou cansou ou lhe faltou preparo físico para a missão. Ambos não podem nem pensar no Canelo...

Os juízes marcaram 115-113 (duas vezes) e 112-116. Vi 116-112 para o agora campeão IBO.

Super penas - Zelfa Barrett (27-1) W12 Bruno Tarimo (26-3-2)

Doze capítulos porque valeu uma eliminatória para enfrentar o campeão da FIB, Kenicho Ogawa. Outra maluquice que visou atender os pedidos do poderoso Hearn. Barrett é bom pugilista e exibiu boa linha e muita técnica. Contudo, Tarimo não pode ser candidato a desafiante a título mundial. Foi apenas um bravo e determinado rival. Faltou-lhe muita coisa. A começar por cercar. Passou todo o cotejo andando atrás do britânico, não tomou o centro do ringue e facilitou a tarefa de esquivar e contragolpear.

Embora caminhando para trás, Barrett foi aquele que conectou os melhores e mais significativos golpes. Repito: somente caminhar para a frente não deve gerar o 10-9. Outra vez, marquei coisa diferente dos jurados. Considerando a queda sofrida pelo perdedor no terceiro e não o vendo vencer nenhum episódio, anotei 120-107. Os escores foram: 117-110 (2) e 116-111.

Super médios - Kevin Lele Sadjo (17-0) KO6 Jack Cullen (20-3-1)

Título europeu da EBU - União Europeia de Boxe - que estava vago. O agora campeão foi um substituto de penúltima hora. Outro francês estava programado mas algo o impediu. Sadjo pratica um Boxe horrível mas tem pimenta nos punhos e muita valentia. Partiu para cima de um adversário muito mais alto e correu os riscos que precisava para chegar perto e bombardear.

Na minha opinião, vinha à frente quando acertou uma bomba no fígado que evoluiu para o nocaute. Cullen tentou tourear a fera mas lhe faltou mais velocidade e repertório defensivo.