Inacreditável Disputa de Título
Por Jorge Luiz Tourinho (04/04/21)
Já temos a fortíssima candidata para a pior disputa de título do ano! Talvez a pior da Organização Mundial de Boxe (OMB) nessa década. Poucos poderão entender como foi realizada. Refiro-me ao combate entre Jamel Herring e Carl Frampton. Válido pelo importante cinturão OMB super pena, foi uma triste decepção dupla. Primeiro, por um desafiante que nada apresentou. Depois, por um campeão sem virtudes aparentes. Ficaram as dúvidas que não poderei tirar: como Herring pode ser campeão mundial e como Frampton era o terceiro da lista de desafiantes.
Acho que a minha surpresa veio do fato de não conhecer os atores. De não ter assistido suas lutas anteriores a essa. Muitas vezes o dono da faixa acerta um golpe e acaba com a festa logo no assalto inicial. Às vezes é o oponente que realiza a façanha. Via de regra se espera ver algo que justifique a existência de disputa de cinto mundial. Já assistimos diversos cotejos nos quais os desafiantes nada conseguiram fazer e perderam todos os rounds. O que se exige é que mostrem empenho, desejo de sair do ringue como titulares da categoria na qual lutam.
A diferença de altura e envergadura entre Herring (23-2) e Frampton (28-3) era enorme. Só havia uma estratégia para o "baixinho" europeu. Caminhar para a frente encurtando a distância e buscando o corpo-a-corpo. Lutar na média ou longa seria vantagem para o norte-americano.
Os três capítulos iniciais foram mornos. Jamel na distância jogando alguns bons jabs que foram suficientes para 10 a 9. No quarto, o britânico pareceu ter acordado e apertou um pouco mas sem nenhuma lucidez nem mostrar vontade de ser campeão do mundo. No quinto Herring conseguiu a primeira queda e no sexto a segunda que provocou o abandono. Estava, enfim, finalizada a agonia de um ex-campeão dos super galos e dos penas. De forma melancólica, infelizmente.
Depois do fiasco vieram as boas notícias. Jamel Herring disse ter interesse em uma unificação com Oscar Valdez. Ótimo! Que os empresários cheguem a esse acordo com o aval das organizações. Talvez seja o atalho para que a OMB tenha um grande campeão. Aliás, Herring entraria como zebra diante de Valdez, Berchelt, Joseph Diaz ou Rakhimov. E de outros que não conheço. A outra good news é o anúncio da aposentadoria, como boxeador, de Carl Frampton. Lamento que não tenha decidido isso antes da luta mas ele está certo. Não tem condições de seguir na dura carreira, ainda mais como super pena. Não me venham com indicação para o Boxing Hall of Fame daqui a quatro anos.
Cheguei atrasado e só pude assistir os três últimos tempos da peleja entre Donnie Nietes e Pablo Carrillo. Super moscas, muita movimentação e troca de golpes. Excelente final dum confronto que valeu o título Internacional da OMB. Nietes é um veterano que ficou afastado por quase dois anos. Creio que por causa da maldita pandemia. Mostrou que ainda tem muita lenha para queimar. Nem sentiu a longa inatividade. Carrillo também mostrou qualidades e merece novas oportunidades. Marquei 2 a 1 em rounds para o filipino. As papeletas: 96-94, 98-92 e 99-91. Todas para Nietes que foi para 43-1-5. Carrillo piorou seu cartel: 25-8-1. Meu ídolo Servílio de Oliveira e o bom locutor Hugo Botelho viram vencer por pequena margem o colombiano mas foi, pelo extrato que vi, combate de difícil marcação no qual a proximidade do quadrilátero pode influenciar o veredito.
Não sei se foi exibida a apresentação do cazaque Tursynbay Kulakhmet (3-0). Parece mais um desses caras que vem do amadorismo com toda a pompa. Manteve seu título, conquistado na sua segunda luta profissional, CMB Internacional dos médios ligeiros, com um nocaute no primeiro assalto em cima do então invicto Heber Rondón (20-1). Temos que ficar de olho nesse jovem Kulakhmet.
Foto: World in Sports