Haney mantém títulos com vitória sobre Lomachenko em luta extraordinária
Jorge Luiz Tourinho
21 de maio de 2023
Um grande evento, talvez o maior nos EUA, que tinha na final o combate entre dois craques. Possibilidade de ser a "Luta do Ano" trouxe uma expectativa enorme sobre o que aconteceria. O palco também estava à altura da promoção da Top Rank Boxing. A noitada de 20 de maio nos chegou via Canal Combate do MGM de Las Vegas.
O destempero do campeão Devin Haney (30-0) na cerimônia da pesagem foi a mostra que ele temia perder sua invencibilidade no dia seguinte. A multa imposta pela Comissão Atlética do Estado de Nevada (NSAC) chega a ser piada levando-se em conta a bolsa de pelo menos 20 milhões de dólares.
A luta, emotiva, técnica e calculada teve, na minha opinião, o domínio do desafiante Vasiliy Lomachenko (17-3) na maior parte dela. Embora já não tenha mais 27 anos – está com 35 – o ucraniano exibiu a habitual movimentação, mas esbarrou na qualidade do campeão unificado. Certamente, não foi a inatividade nem a guerra a causa da derrota.
Haney usou sua maior envergadura para se postar na distância que lhe era confortável. Pouco se importou no que diriam se abusasse dos clinches quando Loma teve que se aproximar para golpeá-lo. Ao se ver em dificuldade trabalhou no corpo com maestria.
O cotejo entre dois dos grandes boxeadores dos leves teve, pelo menos, cinco assaltos de difícil marcação. Dependendo do que viu e da posição em que estava o juiz e o jornalista podem ter marcado coisas diferentes. Seguramente, será essa peleja indicada para os cursos de formação de juízes.
A decisão, pelo motivo que tentei explicar acima, não agradou a todos embora tenha sido unânime. As papeletas foram: Tim Cheatham e David Sutherland 115-113 e Dave Moretti 116-112. O excelente comentar ista Daniel Bergher Fucs anotou 114-114 e eu 116-112 para Lomachenko. Repito: não serei eu a xingar juízes que não viram a mesma luta que analisei.
Os cinturões da AMB, CMB, FIB e OMB seguem com Devin não se sabe por quanto tempo mais. Na entrevista deixou claro que está cansado do "sacrifício" de manter o peso e deverá se apresentar na categoria acima, a dos 63,503. Essa decisão, se confirmada, frustra os amantes do Boxe que esperavam vê-lo contra Gervonta Davis (29-0) e/ou Shakur Stevenson (20-0).
O possível futuro abandono dos cintos coloca Lomachenko de volta na linha de sucessão do rei dos leves. Ser manejado pela empresa de Bob Arum nos faz prever outro mega-evento com Loma-Shakur na final. O embate com Gervonta parece difícil e distante porque o Tank pertence aos quadros da PBC que não se bica com ninguém que queira o controle da programação. Pena, já que Davis Vs Stevenson seria combate para arrecadar outra fortuna.
As preliminares exibidas.
Médios – Nico Ali Walsh (8-0-1) D8 Danny Rosenberger (13-9-5)
Há quem pense que basta ser descendente de grande boxeador, lenda ou não, para ser também lutador de ponta. O Boxe obriga a desenvolver as habilidades para se transformar num campeão. Nico Walsh, neto de Muhammad Ali, era o pugilista da Top Rank. Rosenberger seria apenas um obstáculo para que ele subisse um degrau a mais.
Apesar de exibir boa linha, Walsh carece de mais velocidade para sair e entrar além de mais agressividade atirando golpes. O fato é que o azarão Danny poderia ter causado a zebra se tivesse mais combustível no round final. Sua estratégia eficiente mostrou a quem quis ver o caminho para derrotar o Neto da Lenda.
Os escores foram: 75-77, 77-75 e 76-76 que foi o que anotei.
Título super mosca WBO – Junto Nakatani (25-0) KO12 Andrew Moloney (25-3)
Combate espetacular com nocaute brutal e preocupante. O valente perdedor caiu duas vezes – nos capítulos dois e onze. Contudo, mesmo inferiorizado nas papeletas, nunca se entregou. No derradeiro tempo foi para o tudo ou nada e se deu mal.
Observem esse japonês. É muito bom!
Super penas – Óscar Valdez (31-1) W10 Adam Lopez (16-5)
Foi o oponente ideal para que Valdez se aproxime de nova disputa de título. Quem, olhando os cartéis, diria que a luta seria equilibrada? Enfim, Óscar é o atleta da Top Rank…
A decisão unânime veio com 98-92, 98-91 e 97-93. Para mim, Valdez 100-90.
Leves – Raymond "Danger" Muratalla (18-0) TKO2 Jeremia Nakathila (23-3)
O vencedor é dos quadros da Top Rank que deseja levá-lo a pelejar por alguma faixa importante. Depois de assalto inicial morno, no qual perdeu (na minha opinião), houve um episódio de mais intensidade e trocas. Após receber um golpe e bambear, Nakathila foi castigado e, pera minha surpresa, declarado perdedor em pé.
Robert Hoyle foi o mediador. Precipitou-se. Ainda mais quando se sabe que havia interesse da poderosa companhia de Bob Arum no triunfo do Perigoso Muratalla. Não me parece função dos árbitros tentar adivinhar o que pode acontecer.
Muratalla está entre os top-15 dos leves e tem pegada para ser levado em consideração contra qualquer um dessa divisão.
Imagem: Sporting News