Futuros Campeões ou não
Jorge Luiz Tourinho
9 de janeiro de 2022
O tradicional evento da Showtime - TV a cabo americana - levou o importante promotor uruguaio Sampson Lewkowicz a atirar às feras três promessas. Manejando dezenas de revelações latino-americanas, a Sampson Boxing resolveu apostar colocando seus invictos contra outros boxeadores também não batidos. Em troca ganhou visibilidade mundial monstruosa. Dois de seus apoderados perderam mas não significa o fim. Apenas deixarão de figurar como destaques nas próximas etapas desse "Futuros Campeões".
Possivelmente, outros, além de mim, deverão ter se perguntado porquê emparceiraram seus prospectos com outros de mesmo calibre ou maior. Algo que não é usual na América do Sul. Por aqui preferimos escalar adversários que podem, sem dúvida, ser vencidos pelos nossos lutadores em ascensão. A ideia da empresa de Lewkowicz é alavancar para a disputa de título mundial rapidamente. Um triunfo sobre grandes oponentes seria a chave para abrir essa porta. Em caso de tropeço, recomeça-se outra vez num patamar intermediário.
Uma coisa a analisar é o chamado retrospecto no amadorismo. Ter centenas de combates na mal denominada área olímpica pode não significar muito. Só nos torneios importantes é que os atletas que vão vencendo se chocam com outros bons lutadores. Claro que bem conduzidos essa experiência se torna muito proveitosa na transição para o profissionalismo.
Outra coisa que deveremos ver é o cartel. Não basta ter uma dúzia de triunfos com doze nocautes. Precisamos ver contra quem foram as vitórias. Podem não significar muito. O país ou a praça onde foram conseguidas também pesam. Tradicionais nações pugilísticas oferecem mais possíveis bons adversários. De qualidade provavelmente superior ao de outros centros menos desenvolvidos.
Vamos aos cotejos exibidos na sexta-feira pelos canais Disney. Local: Caribe Royale Resort em Orlando, Flórida.
Super penas - William Foster III (14-0) W8 Edwin De Los Santos (13-1)
Peleja intensa e bem equilibrada. Vide a decisão dividida. 77-74 (2) e 74-77 foram as papeletas. Marquei 76-75. A falta contra Edwin no quarto assalto acabou não sendo decisiva para os juízes. O perdedor é dominicano e era o boxeador da casa - da Sampson.
Foster tem um tique nervoso mas mostrou-se sólido diante de um favorito que vinha de sete nocautes em série. Muita intensidade e movimentação o fizeram triunfar na minha opinião. Santos pareceu frustrado pelo jogo do rival e perdeu, aparentemente, combustível para apertar no final. Talvez o corte no supercílio esquerdo que me pareceu vir de cabeçada involuntária o tenha atrapalhado.
São dois bons valores que devem ser programados novamente em noitadas importantes porque tem muitas virtudes.
Leves - Otar Eranosyan (11-0) W8 Starling Castillo (16-1)
Acertou nessa previsão o extraordinário comentarista Eduardo Ohata. Anunciou bem antes nas redes sociais que o georgiano seria o favorito para ele. Não deu outra. Eranosyan venceu todos os capítulos na minha visão. Castillo era o boxeador da Sampson mas foi completamente dominado.
O vencedor mostrou como deve atuar alguém que seja menor e tenha menor envergadura. Encurtando a distância e atirando muitos golpes. Movimentando-se e criando ângulos. É o número 7 da Associação Mundial de Boxe (AMB) nos super penas.
Duas quedas no tempo inicial deram a impressão que não percorreriam toda a distância mas Otar não tem muita pegada. A decisão unânime foi com 80-70 (2) (foi o que anotei) e 79-71.
Super penas - Luis Nuñez (16-0) TKO10 Carlos Arrieta (14-1)
Dessa vez o domínio foi do contratado da Sampson. Teve trabalho para superar um bravo e laborioso porto-riquenho que vendeu caro a derrota. Nuñez exibiu muito boa linha e teve a volúpia de nocautear quando se ofereceu a chance. Vai longe esse dominicano. Agora está radicado na Filadélfia. Quer seguir entre os penas.
Arrieta perdeu mas mostrou qualidades e merece novas oportunidades.