Esquiva Falcão decepcionou e Gualtieri é o campeão médio da FIB
Jorge Luiz Tourinho
2 de julho de 2023
A grande expectativa para vermos outro brasileiro como campeão mundial foi criada pelo adversário a ser batido em Wuppertal, Alemanha, no sábado 1 de julho. Talvez Vincenzo Gualtieri (21-0-1) tenha sido o rival mais acessível e previsível que um brasileiro tenha enfrentado em luta por título mundial. Inclusive, o mundo do Boxe considerava o capixaba favorito para voltar da Europa com o cinturão da FIB que GGG abandonou.
Pouco antes de serem retirados por inatividade do indispensável site BoxRec, a classificação de ambos mostrava Esquiva Falcão (30-1) na primeira página e Gualtieri na segunda. O alemão era apenas o oitavo peso médio da EBU, a União Europeia de Boxe. O detalhe comum a ambos foram suas colocações no ranking da FIB determinadas por seus promotores. A Top Rank conseguiu que autorizassem como eliminatória uma incrível luta entre Falcão e Patrice Volny. A Agon fez da conquista do secundário cinto Intercontinental da mesma FIB o motivo para que Vincenzo ascendesse à terceira posição do seu ranking mundial.
Se ambos não se caracterizam como grandes pegadores, Esquiva tem um percentual bem maior de combates abreviados. Pareceu-me que a estratégia indicada seria apertar, dominar o ringue e golpear com intensidade, inclusive na curta distância. O primeiro assalto foi claramente vencido por Esquiva, embora não tenha pressionado como eu esperava que fizesse.
No segundo round a surpresa de queda causada por upper e muita dificuldade para se manter de pé. A partir do terceiro, ambos se revesaram no 10-9 até que houve outro knockdown no décimo tempo. Falcão reclamou de golpe abaixo da linha da cintura, e também achei que fosse, mas a queda foi considerada pelo árbitro. Os dois últimos capítulos foram quase que protocolares. A decisão estaria nas papeletas sem dúvidas. O trabalho na linha de cintura fez o alemão se curvar, mas não foi suficiente para que Esquiva tomasse conta do ringue. Pouca lucidez e intensidade para disputa de faixa tão importante.
De fato, houve unanimidade. Oliver Brien e Karoline Puetz deram o mesmo que o excelente comentarista do canal Combate, Daniel Bergher Fucs, marcou: 116-110. Enrico Terlizzi anotou 117-109 e eu 115-111. Dessa vez não li nenhum comentário nas Redes Sociais xingando os juízes.
Preliminares exibidas pelo Combate.
Pesados – Carlos "Hulk" Castillo (3-0) W6 Alfonso "The Prof" Damiani (7-4)
Horrível cotejo entre um gigantesco cubano, forte e lento, e um italiano que veio para não ser nocauteado. Tive a impressão que o promotor e seu matchmaker quiseram oponentes para seus lutadores somassem mais um na coluna da esquerda de seus cartéis. Prática em desuso nos grandes eventos dos EUA e Reino Unido.
Os três juízes, os comentaristas Daniel Fucs e Ana Hissa e eu marcamos 60-54. Arnold Golger, Adrian Laschescu e Maurizio Rinaldo foram os jurados.
Super galos – Yeller Vazquez (3-1-1) D6 Farlin Condori (6-1-1)
Desagradável surpresa! Para mim e para a comentarista Ana Hissa o resultado seria 60-54 para Vazquez. A decisão se deu com: Arnold Golger 58-56 e Adrian Laschescu e Michael Maess 57-57. Escrever o quê?
Cruzadores – Dariusz Lassota (2-0) TKO4 Eduardo Sacramento da Silveira (1-4)
Cotejo apresentado a partir do segundo episódio. Mostrou tremenda falta de respeito pelos assinantes a veiculação de inúmeros anúncios de programas dos canais do sistema Globo. O brasileiro sentiu uma contusão na mão esquerda e daí o nocaute técnico. A verdade é que o pouco que assisti foi outro horroroso confronto. Incrível como foi para a TV mundial. Claro que na Alemanha há melhores cruzadores que Eduardo para fazer quatro ou seis rounds.
Meio-pesados – Martin Houben (16-2) W8 Omar Garcia (18-9)
Triunfo claro do boxeador da Agon Sports. Contudo, se Garcia estivesse imbuído da ideia de vencer, poderia ter provocado uma falseta. Nada disso, conformou-se com seu papel de escada. Os três juízes (Arnold Golger, Adrian Laschescu e Maurizio Rinaldo) e eu marcamos 79-73.
Médios ligeiros – Jack Culcay (33-4) KO2 Juan Adrián Monzón (8-5-3)
Uma piada de péssimo gosto! Bastaria ler os cartéis para adivinhar o que ocorreria. Aconteceu, é claro. Culcay é um pugilista de primeira linha e espera nova chance por título considerável. Monzón é um vencedor de perdedores.
Título médio da IBO – Etinosa "El Chapo" Oliha (18-0) W12 Julio Alamos (16-1)
Foi a luta da noite! Ambos buscaram com as armas que tinham a vitória. Os dois golpearam e foram atingidos. Faltaram-lhes maior poder de punch para definir antes da hora. Fizeram assaltos muitíssimo equilibrados e exigiram muita atenção dos juízes.
A decisão foi unânime com 115-113 de Matteo Montella e Marco Morales (foi o que anotei) e 116-112 de Olena Pobyvallo (que coincidiu com Danny Fucs).
Oliha era o décimo segundo da OMB, mas creio que será defenestrado desse ranking ao sair campeão pela ascendente IBO.
Imagem: RingSide24