Esquiva e Valdez: Lutas Que a ESPN Brasil Não Exibiu
Por Jorge Luiz Tourinho
Apesar de ter sido transmitido pela ESPN americana, parceira da Top Rank, o principal evento do boxe mundial nesse fim de semana não foi veiculado pela ESPN Brasil. Antes de classificarmos o Sr. Palomino e outros executivos dos canais Disney com palavras que começam com a letra "i", devemos pesquisar para saber porque deixaram de marcar um golaço.
A programação teve as vitórias de Esquiva Falcão por abandono no intervalo antes do quinto assalto sobre Artur Akavov e de Oscar Valdez sobre Miguel Berchelt por nocaute no décimo. O ascendente peso leve Gabriel Flores Jr também triunfou naquela noitada. Mesmo que Esquiva não fosse brasileiro, não haveria como supor que o programa que teve na final Adrien Broner fosse melhor que o de Las Vegas, MGM Grand.
Pudemos assistir o VT via YouTube, ainda bem! A vitória de Falcão foi categórica e o coloca de vez na condição de desafiante a um título dos médios. Poderá ser AMB, CMB ou OMB. O primeiro assalto foi aquele no qual o capixaba foi mais exigido. O russo, com muito menor envergadura, partiu para a luta na curta distância e ofereceu algumas dificuldades logo superadas pelo Esquiva. Nos outros três roundes resolveu mudar de estratégia e acabou dominado com mais facilidade. Estava perdendo de 40-36 quando abandonou no intervalo. Talvez por ter o nariz quebrado ou outra contusão.
O que devemos escrever é que, usando a classificação do excelente comentarista da ESPN Eduardo Ohata, Esquiva está na elite dos pesos médios querendo entrar na elite da elite. O que acontecerá se for campeão ou tiver uma atuação equilibrada contra um dos melhores dessa divisão. Ora, oponentes como Akavov serão vencidos por ele semanal ou quizenalmente. Diante da sua grande atuação, a única coisa que poderá preocupar é o fato de ter batido, batido muito, e não ter derrubado. Se não é um pegador emérito, deve ser preparado para combates mais longos que serão mais trabalhosos. Foi para 28-0.
Akavov está na terceira prateleira dos médios e não mostrou que pode entrar na elite. Tomando as palavras do saudoso e extraordinário jornalista argentino Julio Ernesto Vila: é um vencedor de perdedores. Foi para 20-4 e pode ser visto como um teste para boxeadores que sonhem ir mais alto.
A decisão deve gerar controvérsia. Para mim, abandono no intervalo após o gongo do quarto tempo deve ser TKO5. Por motivo simples. Os juízes pontuam cada capítulo após o soar da campainha. Então, todos tinham 40-36. Não há como dizer que foi no quarto com essa pontuação. Mesmo que os dirigentes voltem com a decisão Abandono, não há como informar para a História que foi abandono no intervalo do quarto para o quinto. Inclusive a TV americana informou que abandonou no final do quarto. Não foi isso, foi depois do final.
O combate final chegou apenas em extratos e em opiniões de colegas da imprensa. Foi um grande cotejo encerrado com um brutal nocaute. O KO do ano, da década e do século, talvez. O agora campeão, Oscar Valdez é excepcional. Mostrou suas qualidades diante de um grande campeão que lhe exigiu até onde pode.
O final da luta causou muita preocupação porque Berchelt caiu apagado e na lona ficou por algum tempo. Tudo isso porque o árbitro resolveu usar a maldita cláusula de fazer contagem protetora com o pugilista de pé. Infelizmente, isso também existe no regulamento da Federação Argentina. Uma barbaridade! No quarto assalto, o então campeão bambeou numa face do ringue, foi jogado nas cordas de outra e trocou as pernas já no terceiro lado do quadrilátero. Quando Valdez se aproximou para finalizar e sair com o cinturão o mediador o parou: "Calma, Oscar. Vou dar um tempo para Miguel...". Resultado: tirou a possibilidade do nocaute técnico ali mesmo no quarto rounde.
Porque considero um erro grosseiro? O tempo dado fez com que Berchelt chegasse ao descanso. Imaginem se ele vencesse a luta. Agora imaginem se morresse como consequência do castigo até o décimo tempo. Os árbitros não devem proteger interesses de nenhum promotor. Se o boxeador não reunir condições para continuar, devem proteger a sua integridade, não o seu título. Lamento por ser enfático, mas há muitos que acham essa conduta aceitável.
Valeu o cinto super pena do Conselho Mundial de Boxe. Valdez, sensacional, foi para 29-0 e Berchelt para 37-2.