Era uma vez três: dois americanos e um irlandês
Por Paulo Roberto Godinho
A nossa história hoje teve início no ringue armado ontem no T-Mobile Arena, de Las Vegas (Nevada) e as coisas começaram assim.
Era uma vez três: dois americanos e um irlandês. Robert Byrd foi o escalado para uma luta de boxe que reuniria uma "queimação de filme" entre um supercampeão de boxe, com um cartel irretocável de 49-0-0, chamado Floyd Mayweather Jr., e um campeão de MMA, Conor McGregor, estreante na modalidade.
Por quase três meses o americano e o irlandês andaram por Secas e Mecas, trocando "gentilezas" como parte da divulgação do combate entre eles. Era uma vez um americano e um irlandês que acertaram um "quebra-louças" temperado com milhões de dólares pagos, grande parte, por inocentes que imaginaram poder haver de fato uma luta de boxe entre um boxeador de verdade e um praticante de MMA - que chamou o boxeador para uma porrada, mas dentro de um ringue de boxe, nas regras deste esporte, com um juiz de boxe. Será que o irlandês estava com a cabeça no lugar quando armou esse desafio?
Apresentação milionária
Mais do que um desatino do desafiante, a ideia colou acabando por tornar-se a maior jogada financeira do ano. Tirou uma verdadeira galinha dos ovos-de-ouro de uma aposentadoria de dois anos, para motivá-la a mais uma apresentação milionária, mas que só poderia prejudicar sua história. Mesmo assim, Ela (a galinha) aceitou.
A realização no seu todo foi além de tudo o que se poderia imaginar daquilo que no início parecia um desafio sem consequências, de um wrestler falastrão para um boxeador. Como no antigo verbete da história dos dois polacos e um francês, que muitas crianças ouviram dos seus avós há no mínimo 80 anos, ontem em Las Vegas a história me veio à mente, pois no ringue do T-Mobile Arena, eram três: dois americanos e um irlandês. Robert Byrd, Floyd Mayweather Jr. e Conor McGregor.
Mais uma vez, o marketing bem feito pôde fazer de uma piada algo para ser aguardado com ansiedade, gerando somas absurdas, de um encontro entre dois praticantes de lutas diferentes, no terreno, nas regras e na arbitragem de apenas numa delas. Assim começou o combate entre Floyd Mayweather Jr. e Conor McGregor.
Vista grossa
Bem dentro de suas características de combate, Mayweather iniciou os primeiros roundes estudando o adversário, obrigando-o a uma movimentação exagerada e assustada, à espera de uma reação ofensiva do americano, que só aconteceu de fato a partir do 6º tempo. Até ali, surpreendeu-me a fraca atuação do árbitro Robert Byrd que permitiu ao irlandês, várias vezes, colocar-se às costas do americano e agredi-lo por trás, como também fez vista grossa a Mayweather que usou seguidamente o antebraço e até o cotovelo no rosto do irlandês.
Como bom administrador de lutas que sempre foi - "remember" Saul 'Canelo' Alvarez e Manny Pacquiao, só para citar alguns - Money deixou Conor sobreviver seis tempos na esperança de acertar-lhe um golpe de sorte e definir a luta ao seu favor. Daí para frente Mayweather já contava com o desgaste esperado de McGregor, que não é um lutador de tiros longos, e começou a entrar com diretos de direita que vazavam seguidamente a guarda do irlandês, que já recuava pelo ringue, antecipando o final da brincadeira.
No 9º giro já se podia prever que o desenlace estava desenhado, mas McGregor conseguiu sair vivo e, nesse intervalo, sentado no banquinho, o que se viu foi um desânimo total, dele e de sua equipe, que já o atendiam completamente arrasados.
Na 10ª rodada Floyd Mayweather achou que já era hora de acabar com a festa e passou a bater para valer, tangendo o irlandês por todo o ringue, que ficou pequeno para ele, que já trocava pernas, de guarda caída e quase implorando a Robert Byrd para acabar a luta. Por fim, Byrd num gesto de misericórdia humana decretou o nocaute técnico. Era uma vez três: dois americanos e um irlandês.