Equilíbrio por baixo em Guadalajara, México
Por Jorge Luiz Tourinho
17 de agosto de 2021
Os milhares de boxeadores mexicanos ativos nos fazem esperar jornadas com lutas equilibradas. Nem sempre o equilíbrio se reflete em bons combates. Algumas vezes memoráveis embates. Outras, para esquecer. Da noitada exibida pela ESPN Brasil na noite de 13 de agosto vimos um bom trabalho do matchmaker ao analisarmos os cartéis.
Na prática, porém, o resultado foi apenas mediano. Inclusive os atletas que fizeram a luta final ainda não estão no patamar de finalistas. Foram mostradas três contendas com muito mais pancadaria do que técnica refinada. Está na cultura do Boxe azteca. O que não impede que haja por lá lutadores altamente técnicos.
O degrau mais difícil foi conquistado: a transmissão pela TV. Ela facilita trazer anunciantes e patrocinadores. Assim como no nosso futebol, a qualidade dos árbitros e juízes não está no nível do mais importante pugilismo da América Latina. Talvez a repercussão dos resultados controversos faça a Comissão de Guadalajara (ou a do Estado de Jalisco) tomar alguma atitude.
Vamos aos três cotejos exibidos no Brasil - provavelmente no México foram mais.
Super penas - Johansen Álvarez (2-0-1) D4 Manuel Rojas (1-2-1).
A enorme expectativa pela nova aparição do primo do extraordinário Canelo foi dissipada pela bravura e iniciativa de Rojas. Para quem o considerava apenas mais um tomate a ser esmagado foi a surpresa. No entanto, surpreendeu mais a postura do invicto Álvarez. Parecia convencido que nocautearia quando quisesse.
Nada disso, teve que trabalhar bastante para não perder a invencibilidade. No último assalto, achou um golpe de direita que deve ter mudado a visão dos juízes. Rojas fez da coragem e da troca franca a virtude para não sair derrotado.
A decisão foi majoritária com: 38-38 (2) e 38-37 Álvarez. Esse juiz deu empate em algum round... Marquei 39-37 para o primo do craque. O excelente comentarista Eduardo Ohata também viu empate em 38.
Super moscas - Jorge Luis Orozco (15-3-1) W10 Martín "El Tecua" Tecuapetla (15-14-4).
O vencedor dominou desde o começo. Nunca esteve a ponto de abreviar o confronto. Pareceu desgastado nos dois últimos tempos. Um árbitro exigente demais para o meu gosto marcou uma falta contra Martín por aplicação de um golpe abaixo da linha da cintura no sexto capítulo. Bastaria uma leve admoestação.
Decisão unânime com três papeletas 80-71 que foi o que pontuou Ohata. Anotei 79-72 para Orozco que tem muito que treinar se quiser voos mais altos.
Super galos - José Armando "Pamba" Valdes (10-5-1) W10 Edwin "Pupo" Palomares (15-4-1).
A torcida que já se faz presente no México tinha no perdedor o seu escolhido. Pelo que entendi, me perdoem se ouvi mal, Valdes era substituto de alguém. Não exibiu as condições físico-atléticas de quem quer fazer dez assaltos. Cuspiu ou deixou cair o protetor bucal quatro vezes. Só foi punido com uma falta! No sétimo episódio.
Palomares se portou como favorito. Tomou sempre a iniciativa. Mas o fez de forma desordenada. Perseguiu o Pamba ao invés de tomar o centro do ringue e fazê-lo girar à sua volta. Mesmo assim construiu, no olhar de Ohata e no meu, uma vantagem que não se consumou antes do limite porque lhe falta poder de punch.
Valdes mostrou valentia mas lhe faltou mais combustível para as trocas. Deve ter ficado feliz com a vitória que caiu do céu.
Decisão dividida com 95-96, 95-94 e 96-93. Eduardo Ohata e eu vimos o triunfo claro de Palomares. Ele com 98-91 e eu com 96-93. De qualquer jeito, para que voltem a fazer lutas finais precisarão evoluir muito.