Entidades que concedem títulos deveriam ter Comitês de Classificação
Por Jorge Luiz Tourinho
3 de outubro de 2021
Para fazer justiça aos boxeadores que se destaquem. Em especial aqueles que conquistam triunfos importantes e inquestionáveis. Os títulos não deveriam ser disputados para agradar promotores. Nem por lutadores ranqueados por interesses desses mesmos empresários.
O que me leva a escrever sobre esse tema foi a luta válida pelo cinturão dos cruzadores da Organização Mundial de Boxe (OMB). Foi a semifinal do mega evento realizado no campo do Tottenham em Londres no sábado 25 de setembro. Naquela ocasião Oleksandr Usyk sagrou-se campeão mundial dos pesados ao vencer o então titular Anthony Joshua.
O combate ao qual faço referência foi Lawrence Okolie (17-0) KO3 Dilan Prasovic (15-1). Como escrevi antes, teve nível fraquíssimo para ser disputa de cinturão importante. Okolie pode não ter se apresentado com muita lucidez para evitar os clinches e agarramentos mas dominou desde o começo. Acertou um diretaço de direita no segundo assalto que provocou a primeira queda. No terceiro um misto de cutucão e gancho no fígado fez o montenegrino ficar na lona.
Em nenhum momento Prasovic mostrou que queria pegar o trem de volta como campeão OMB. Aliás, não exibiu nada que justificasse sua entrada no ringue. Depois de assistir a luta pelo DAZN fui conferir a informação passada por um de seus comentaristas que o perdedor era o primeiro desafiante da entidade sediada em Porto Rico. Consultei o ranking da OMB e lá estava o nome dele na posição mais alta da relação.
Não o conhecendo, procurei no famoso site BoxRec o seu cartel. Pode parecer inacreditável mas sete dos quinze vencidos tinham cartel negativo! Somente um era invicto até perder para ele. Nenhum top-20. Então, como é que um atleta desses pode chegar a ser o desafiante obrigatório da OMB nesse ponto da carreira?
Desconfio e me convenci que Dilan Prasovic foi classificado como número um dos cruzadores para que Eddie Hearn e sua Matchroom Boxing e sua associada DAZN e sua parceira comercial Sky Box Office (britânica) alavancassem suas vendas de sinal para os países que eram parte da Yugoslávia. Eis uma razão forte para ter-se um montenegrino de nível apenas regular disputando um cinto invejável.
Vale aqui uma reflexão. Todo organismo que concede títulos deve ter rankings e Comitês de Classificação independentes. É a forma mais correta para valorizar as faixas e para fazer justiça aos lutadores que mereçam disputá-las. Mesmo que não sejam manejados pelos magnatas do Boxe.
Alguns critérios para a análise dos leitores:
1) De 2 a 7 jornalistas, ex-boxeadores, ex-juízes ou ex-matchmakers comporiam o Comitê de Classificação. Claro, devem ser totalmente independentes para poder dizer à diretoria da OMB, no caso, que Prasovic não pode ser primeiro colocado nem no ranking europeu quanto mais no mundial;
2) A entrada direta no seu ranking mundial teve ter a seguinte norma: ou se torna campeão continental ou então vence algum ranqueado;
3) A entrada fora disso se dará após discussão e decisão do Comitê. Sempre levando em conta os resultados do lutador apresentado;
4) Todos os que compõem o ranking mundial deverão boxear em até oito meses após a disputa do título da sua divisão senão serão retirados. Casos de contusão, falecimento de familiares ou problemas judiciais ou contratuais deverão ser estudados. Caso o inativo seja o campeão pode ser indicada a disputa do título interino;
Diante de tantas denúncias e acusações torna-se fundamental afastar das direções dos organismos reitores a nefasta influência de promotores que são atendidos em detrimento do merecimento de atletas de qualidade e com resultados expressivos.