É a Vez de Esquiva Falcão

19/04/2021

Por Jorge Luiz Tourinho

Depois de assistir a briga de foice no escuro entre Demetrius Andrade e Liam Williams ontem no programa da MatchRoom no DAZN, só posso concluir que o empresário Sérgio Batarelli já deve ter enviado mensagem para a Organização Mundial de Boxe (OMB). O possível texto deve ter sido claro e sintético: "Se Andrade pode manter o título diante de Williams, o meu garoto poderá fazer melhor e ser campeão da OMB.".

Antes de abordar o que vi, devo ressaltar e enaltecer a postura do emparceirador da empresa do inoportuno Eddie Hearn. Todas as lutas que foram para a telinha da Internet tiveram boxeadores profissionais. Nada de entregadores de pizza, motoristas de táxi, balconistas de loja de tecido ou YouTubers. Nem mesmo semi-profissionais. Junto com a equivalência nos cartéis, foi a principal razão do sucesso do evento transmitido de Hollywood, Flórida.

Volto ao combate. Andrade (30-0) é tecnicamente muito superior ao inexplicavelmente desafiante obrigatório da entidade sediada em Porto Rico. Williams (23-3-1) veio credenciado pela conquista dos títulos britânico e Intercontinental OMB. Talvez a considerável influência do já citado Hearn possa tê-lo colocado na posição na qual entrou no ringue. Com a estratégia traçada desde o início de jogar na curta distância, o galês apertou o campeão mas sem lucidez. Apenas com a vontade de sair com o cinturão e valentia não foi possível realizar o sonho.

A luta foi horrorosa para uma disputa titular de organismo importante. Andrade dominou facilmente os três primeiros assaltos tendo uma queda aplicada no segundo tempo. A partir do terceiro prevaleceram as atitudes faltosas e clinches exagerados do europeu. O medíocre árbitro a tudo aceitou. Vendo que o mediador era fraco, Andrade também usou dos empurrões com a cabeça e abusou de agarrar braços. Mesmo com engalfinhamentos a peleja seguiu sem nenhuma falta marcada. Incrível! O americano se conformou em ir vencendo os capítulos e deixar chegar na distância estabelecida. Dois juízes anotaram 118-109 e o outro 116-111 que coincidiu com a minha marcação.

Pelo exposto, Batarelli não poderá perder a chance de dizer a verdade: Esquiva pode apresentar espetáculo muito melhor que esse. Claro que Demetrius poderá achar seu boxe. Com certeza, ele é muito melhor do que mostrou ontem. Alguns podem considerar que o brasileiro ainda não tem experiência contra atletas do primeiro escalão. Sim, mas Williams também não tinha e chegou lá para a disputa. Em tempo, Falcão é o quarto da relação dos médios.

As últimas notícias nos jornais nacionais não foram muito animadoras. Esquiva foi apresentado como moto-boy de pizzaria. Estaria complementando a sua renda. Em seguida, internautas fizeram uma vaquinha virtual para ajudá-lo. Um conhecido empresário inteligente se aproveitou para entrar no lance e fez dele uma excelente jogada de propaganda e marketing para a sua marca. Quem quer ajudar não promove aglomeração na pandemia para tirar fotos com o boxeador famoso. Inclusive o episódio merece esclarecimento. Como um contratado da principal promotora de boxe dos EUA, a Top Rank Boxing de Bob Arun, se encontrava em dificuldades financeiras?

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As preliminares e a co-principal.

Super-leves - Arthur Biyurslanov (8-0) W8 Israel Mercado (9-1).

Duas promessas que foram jogadas no quadrilátero. Nada de fazer cartel. Os contratados da MatchRoom vão é para os testes. Fizeram uma excelente luta. O vencedor é canadense e filho de chechenos (é nação da Federação Russa?) e o perdedor filho de mexicanos. Servílio de Oliveira gostaria do cotejo porque ambos batiam com força, com vontade de decidir. Os dois merecem novas oportunidades. Os jurados marcaram: 76-76, 78-74 (o que marquei) e 77-75.

Pesados - Andrei Fedosov (32-3) KO1 Mahammadrasul Majidov (3-1).

O perdedor veio do Azerbaijão. Defendeu seu país em Olimpíada e era considerado franco favorito contra o russo que vinha de longa inatividade. Como já escrevi, na MatchRoom os caras vão para confrontos que exigem. Logo de cara, Fedosov acertou um diretaço de direita que levou ao knockdown com torção violentíssima de tornozelo. Majidov ainda levantou mas não tinha como apoiar a perna direita. Nova queda e contagem completa.

Super médios - Alexis Espino (8-0) W6 Ty McLeod (6-1).

O vencedor tem apenas 21 anos e é o boxeador da casa. McLeod é apenas um guerreiro duro e bravo. Foi dominado mas tentou com as armas que dispunha. Olho nesse Espino. Promete. As papeletas: 60-54 (foi o que marquei) e 59-55 duas vezes.

Título IBO super médio - Carlos Gongora (20-0) KO8 Christopher Pearson (17-3).

O perdedor foi o vencedor de Yamaguchi Falcão em 2 de maio de 2019. Estava inativo desde então. Não compreendi como foi guindado à condição de desafiante. Mesmo considerando que a IBO é uma entidade menor, deveria haver mais respeito com os demais desafiantes. Pearson não figurava nas 100 posições que tem o ranking deles. Gongora não teve nada com isso. Foi batendo na cabeça e no corpo e vencendo todos os rounds. No oitavo capítulo acertou outra bomba no olho direito já quase fechado e Pearson se ajoelhou indicando dores naquele local. O terceiro homem do ringue foi até 10 e ponto final. O Equador continua com seu único campeão mundial. 

Foto: Flávio Perez/On Board Sports