Deontay Wilder venceu facilmente Robert Helenius como era esperado
Jorge Luiz Tourinho
16 de outubro de 2022
Como é que um boxeador que vem de duas derrotas por nocaute para o campeão da categoria pode continuar como primeiro desafiante dessa mesma categoria? E como é que o Conselho Mundial de Boxe (WBC-CMB), além de mantê-lo na privilegiada posição, o indica para a disputa de eliminatória?
Foi o caso de Deontay Wilder. Alguns poderão responder que é pelo conjunto de suas virtudes que isso aconteceu. Outros poderão alegar que é o peso pesado com maior quantidade de dinamite nos punhos. Duas verdades. Contudo, para mim, é a subserviência da direção do WBC aos interesses de promotores - no caso a Premier Boxing Champions (PBC) - que levou ao que apontei acima.
Inclusive, o flamante campeão Tyson Fury já escolheu outro oponente para substituir o também inglês Anthony Joshua. As negociações para super lutas contra Oleksandr Usyk e o mesmo Joshua ficarão para depois. O desafiante obrigatório que sairá do confronto entre Deontay Wilder e Andy Ruiz Jr que fique esperando o desenrolar dos acontecimentos como a terceira opção para Frank Warren e o Rei Cigano.
A jogada de apontar como participante da semifinal da eliminatória Robert Helenius pareceu-me clara: colocar Wilder na cara do gol para marcar. A preocupação de alguns com as reais condições do pegador norte-americano se esvaíram logo no primeiro assalto do combate realizado no Barclays Center do Brooklin, NY, no sábado 15 de outubro. A lentidão do gigantesco sueco-finlandês o deixou na linha de tiro dum balaço de direita que provocou a queda e o nocaute. Esperava que ele exigisse algum esforço maior de seu adversário, mas provou ser apenas um vencedor de perdedores.
Agora, Wilder (43-2-1) vai esperar outros meses para enfrentar Ruiz Jr e outros meses mais para saber se reinará como campeão do WBC ou se aguardará por Fury. Helenius (31-4) deve ter recebido a bolsa para se retirar dos ringues pois nada conseguirá diante de nenhum dos top-15 dessa divisão.
A noitada do PBC teve o interessante embate entre Emmanuel "Manny" Rodríguez (21-2) e Gary Antonio Russell (19-1). Vencido pelo primeiro por decisão técnica após um violento choque de cabeças no nono round. Foi a eliminatória (mais uma!) para o título dos galos da WBA e da IBF.
Contrariando as previsões, Rodríguez dominou o cotejo e, fatalmente, sairia dele como vencedor. Muito trabalho de seus treinadores com muita observação o levaram a um processo de luta que frustrou o então invicto e favorito. Houve uma queda no oitavo tempo que só fez Russell voltar com mais vontade. Não deu para entender porque o árbitro Benjy Esteves mandou começar o décimo capítulo para chamar o médico. Talvez só para fazer os juízes darem empate no que foi o último episódio. O comentarista Servílio de Oliveira e eu marcamos 87-83 para Manny. As papeletas foram: 100-90, 97-93 e 99-91. Nenhum dos dois assusta o japonês Naoya Inoue (23-0).
Outro cotejo que parecia promissor acabou sem nenhum brilho. O título pesado Continental das Américas do WBC continuou nas mãos do cubano Frank Sánchez (21-0). Um combate lento e quase chato terminou com o nocaute técnico no nono tempo logo após a queda sofrida por Carlos Negrón (25-4).
Pensei que Sánchez faria valer sua aparente maior capacidade física, mas optou por cozinhar o galo para não se expor ao perigo. Terá que vencer categoricamente algum bom peso pesado para ser levado em conta para voos mais altos. Negrón não passou no teste e fica no grupo de segunda divisão da mais charmosa divisão do Boxe.
Outra eliminatória veio para as nossas TV. Dessa vez, entre super médios. Caleb Plant (22-1) aplicou um violentíssimo e preocupante KO em Anthony Dirrell (34-3-2). Domínio total de Plant em outro confronto modorrento e sem maiores emoções. Uma rivalidade quase irracional motivou ambos a bate-bocas desnecessários que trouxeram insultos e ofensas que não coadunam com o nosso esporte. Enfim, quem apostará em Caleb numa hipotética revanche com Canelo Álvarez?
Imagem: Bad Left Hook