Cinco de Fevereiro – Parte 4

08/02/2022

Jorge Luiz Tourinho

8 de janeiro de 2022

Sábado 5 de fevereiro em Las Vegas na Michelob Ultra Arena. A empresa Premier Boxing Champions (PBC) trouxe outro excelente evento de Boxe de verdade. Com boxeadores, sem Youtubers. Com entidade supervisora, sem aventureiros. O caminho para alavancar o crescimento do boxe brasileiro parece-me o de promover reais lutas de Boxe. Com tudo o que o esporte necessita para ser considerado como tal.

A luta final da grande noitada nos reservou a volta de dois extraordinários lutadores que vinham de derrotas. Fizeram um combate muito bom. Não deu para entender como é que foi apresentada como eliminatória ao título do Conselho Mundial de Boxe (CMB). Vamos ao que assistimos.

Meio-médios - Keith Thurman (30-1) W12 Mario Barrios (26-2).

Dois grandes boxeadores fizeram uma luta muito boa. O vencedor veio de um hiato de dois anos, seis meses e 16 dias desde sua derrota por pontos para o já aposentado Manny Pacquiao. O perdedor também veio de tropeço. Frente a Gervonta "Tank" Davis em 26 de junho de 2021. Em entrevista prévia, Thurman disse ter recusado ofertas para se apresentar sem a presença de público. Para ele, as arenas e ginásios cheios são sua motivação.

Não houve quedas. Thurman foi superior na maior parte dos assaltos, mas, para mim, ficou claro que faltou a intensidade que poderia ter abreviado a disputa. Barrios bambeou duas vezes, mas sabe se cuidar dentro do ringue. Pode sair dos momentos difíceis com estilo. Terminou amarrotado e com o supercílio esquerdo cortado.

Para Thurman, estavam trabalhando um encontro com Terence Crawford. Contudo, me informaram que Crawford e Ugás unificarão os títulos dos meio-médios que são donos. Talvez os apoderados do One Time esperem pela definição do cotejo no qual Crawford é o franco favorito. Enfrentar o campeão unificado é garantia de bolsa de US$ 5 milhões. Está bom?

Barrios pode triunfar sobre muita gente boa. Resta saber se continuará jogando nessa divisão ou baixará de peso, o mais indicado. A menos que seu entorno prefira arrecadar algumas boas bolsas em contendas com outros Top-10.

A decisão foi unânime com: 118-110 (2) e 117-111 que foi o que marcou o excelente comentarista Eduardo Ohata. Anotei 116-112 para o vencedor.

Super galos - Luis Nery (32-1) W10 Carlos Castro (27-1).

Combate interessante que marcou a volta do ex-campeão dos super moscas e dos galos contra um boxeador invicto até então. Respectivamente, número 7 do CMB e 3 da FIB e do CMB. Nery derrubou no primeiro round. A impressão que o combate não chegaria ao fim do tempo determinado foi indo embora diante da cautelosa atuação do mexicano. Talvez escaldado pelo nocaute sofrido contra Brandon Figueroa por golpe no corpo.

Castro poderia ter melhor sorte se apertasse mesmo com riscos. Seus melhores momentos foram quando fez isso. Sinceramente, carteis às vezes nos enganam. Foi o que passou para mim o perdedor.

A decisão foi dividida para espanto da equipe dos canais Disney. Ohata e eu vimos ampla vitória de Nery. Ele por 98-91, eu por 97-92. Os juízes marcaram 94-95, 96-93 e 95-94.

Médios-ligeiros - Jesús "Mono" Ramos (18-0) TKO6 Vladimir Hernández (13-5).

Demorou dois tempos para que o craque Ramos, de apenas 20 anos, dominasse o combate e produzisse o nocaute. Vai longe esse rapaz que é filho de mexicanos e tem boxeadores na família. Seu tio Abel Ramos perdeu em outra preliminar. Claro que precisamos vê-lo diante de alguém mais expressivo, mas já apresentou suas credenciais.

Hernández tentou e acabou vencendo os dois capítulos iniciais. Contudo, faltou-lhe pegada para impor mais dificuldades para o favorito. Com o andar da carruagem exibiu pouca preparação física. Sem combustível, foi presa fácil para o predador.

Super penas - Leo Santa Cruz (38-2-1) W10 Keenan Carbajal (23-3-1).

Outro craque que retornou de derrota. Foi para Gervonta Davis em 31 de outubro de 2020 no nocaute daquele ano. Ver o Santa Cruz pode fazer pensar que é fácil lutar Boxe. Além da técnica e da movimentação, Santa Cruz tem o atributo da iniciativa e da vontade de nocautear. É o tipo do boxeador que o público norte-americano quer assistir.

Domínio completo só parado por duas cabeçadas involuntárias (ou não). Os empresários de Carbajal aceitaram a vaga para oponente de Santa Cruz de olho na bolsa e na exposição pela TV mundial. Em nenhum momento ele mostrou que poderia sair com o triunfo.

Todos concordaram com o 100-90. Os três juízes, Eduardo Ohata e eu. Raridade.      

Foto: Sporting News