Canelo Já Fez História

28/02/2021

Por Jorge Luiz Tourinho

Um adolescente iniciante na prática de Boxe, Muay Thai ou Kickboxing que assista a gravação dessa última luta do Canelo vai pensar que é fácil lutar. O show com o qual o extraordinário mexicano brindou o mundo ontem, dia 27 de fevereiro, em Miami impressionou a todos. Um verdadeiro craque! A movimentação, o caminhar diante do desafiante, a guarda sempre ativa e protegendo a cabeça e o corpo, a escolha certa da forma de defesa, dignos de um gênio! As esquivas feitas com passadas ou movimentos de cabeça e tórax substituídas algumas vezes por aparas dos golpes pelas mãos e braços. É o número um peso por peso!

A programação que teve na final a disputa dos títulos mundiais AMB e CMB dos super médios entre Saúl Canelo Álvarez e Avni Yildirim foi bastante badalada e a plataforma DAZN teve ter abiscoitado muitos novos assinantes. Na prática, porém, decepcionou. Em nenhum momento dos três assaltos, o turco mostrou o porquê de estar na invejável condição de desafiante obrigatório do Conselho Mundial de Boxe. Dominado desde o começo, teve seu treinador pedindo nos dois primeiros intervalos para que "não respeitasse o campeão.". Estava claro que Abel Diaz queria que Yildirim saísse da inércia e respondesse aos golpes recebidos. Diante de um excepcional boxeador, pareceu estar petrificado e resignado a perder. Nada fez no terceiro e foi à lona. Esbordoado um pouco mais, veio o gongo salvador. Dessa vez Diaz gritou que se não lutasse pararia a contenda. Antes de iniciar o quarto tempo, veio o abandono. A expressão vazia pode ter sido a causa. Álvarez não deve ter entendido. Nem eu...

Nesse ponto tenho que fazer uma comparação, guardadas as devidas proporções. Quando se disputa um título, deve-se mostrar vontade de sair do ringue com ele. É o mínimo exigido. Os brasileiros Patrick e Adriana, recentemente, foram derrotados em combates por cinturões mundiais. Deram tudo que tinham, se empenharam a fundo. Foram vencidos mas saíram do quadrilátero respeitados. Era como dissessem que estariam prontos para outra em futuro breve. Avni talvez tenha se contentado apenas em receber a polpuda bolsa.

Li numa rede social que Canelo não tinha culpa pela indicação de Yildirim como seu adversário. Claro que não! O culpado maior ou único é o Sr. Maurício, filho do falecido ditador Sulaimán do CMB. Esse é o cara que deve explicar como alguém que vem de derrota em fevereiro de 2019 para Anthony Dirrell pode ser o primeiro desafiante de sua entidade. Não conseguirá, nem tentará, justificar o inexplicável. O que importa é viajar o mundo e hospedar-se em hotéis 5 estrelas sem gastar um tostão. Parece que a influência nefasta do Conselho ficou para trás porque já está anunciada a próxima defesa de Canelo contra Billy Joe Sounders (30-0), rei da OMB, para 8 de maio. Álvarez foi para 55-1-2 e Yildirim para 21-3.

A transmissão da DAZN mostrou um evento com requintes de mediocridade. Cantores de quinta categoria, convidados mal vestidos e de chapéu falando para gastar o tempo. Tudo com a cara do dono da Matchroom. A fama do grande asteca fez arrecadarem dinheiro para tudo isso. Uma das poucas coisas aproveitáveis foi a pergunta de uma apresentadora: "É Canelo o melhor boxeador mexicano da história?". Não sei nem gosto de comparar pugilistas de peso diferente. Que os leitores opinem. Contudo, uma coisa é certa, Canelo já fez história.

Preliminares da noitada no Hard Rock Stadium.

Super penas - Marc Castro (2-0) TKO2 John Moraga (1-3) - equilibrada no papel, apenas. Castro pode ter sido campeão mundial amador e sobrou. Uma queda no primeiro jab de esquerda decretou que o cotejo não iria longe. Mais duas quedas no segundo assalto e só.

Super médios - Diego Pacheco (11-0) W10 Rodolfo Gómez Jr (14-5-1) - o invicto foi exigido e passou no teste. Gómez vendeu caro a derrota. Os três juízes marcaram 79-73. Pontuei 78-74.

Pesados - Zhilei Zhang (22-0-1) D10 Jerry Forrest (26-4-1) - o lento chinês derrubou uma vez em cada um dos três rounds iniciais. Cansou e quase perdeu. Teve contra si uma absurda falta marcada por segurar. Forrest mostrou valentia e determinação mas seria injusto sair vitorioso. As papeletas: 93-93 (2) e 95-93 para Forrest. Marquei 94-92 para Zhang.

Título interino CMB dos moscas - McWilliams Arroyo (21-4) TKO5 Abraham Rodriguez (27-3) - a potência da pegada do vencedor fez toda a diferença. Brincando, alguém poderá dizer que Arroyo é um mosca que ferroa como vespa. É um animal batendo. Rodriguez mostrou qualidades mas a estratégia de girar em torno do portorriquenho se mostrou inadequada. Seu melhor momento foi no infight do segundo capítulo. Uma queda no quarto e castigo no quinto tempo determinaram a desistência do córner do mexicano.      


Foto: https://www.japantimes.co.jp/sports/2021/02/28/more-sports/boxing-2/saul-canelo-alvarez/