Boxing For You #11

30/05/2022

Jorge Luiz Tourinho

30 de maio de 2022

Esquiva Falcão Florentino (30-0) é um boxeador de classe mundial. Adversários do nível de Cristian Ríos (27-15-3) ele vence de quinze em quinze dias. Com facilidade. Como pode-se trazer oponentes de melhor trajetória para grandes espetáculos com o dólar americano valendo pouco mais de cinco reais? Fica difícil. Talvez os promotores tenham se contentado com aqueles que aceitaram vir ao Brasil pela quantia que se pode pagar de bolsa.

Concordo com o líder do Grupo Reduto de Boxe Brasileiro, Jorge Bueno, quando escreveu que um dos pontos positivos desse que foi um triunfo anunciado desde que se conheceu o rival foi manter Esquiva em atividade. Coisa importantíssima em se tratando do primeiro desafiante ao título dos médios da Federação Internacional de Boxe (FIB). Outra coisa a ressaltar foi que os três juízes, o excelente comentarista do SporTV, Daniel Fucs, e eu marcamos 100-90. Ou seja, Falcão venceu todos os assaltos. E de forma clara e inquestionável!

Contudo, precisamos alertar para o que foi o ponto negativo. Inclusive o consagrado árbitro, agora comentando com muita facilidade e clareza, notou que estava presente no canto do brasileiro o treinador Contreras, um dos preparadores da Academia Robert García da Califórnia. Parece que ele não gostou muito de Esquiva ter percorrido toda a distância contra um rival apenas bravo e resiliente. Vale a máxima: quem não tem dinamite nos punhos deve se impor com intensidade. Outro ponto que notamos foram os golpes recebidos pelo ex-medalhista olímpico. Um processo de luta baseado em bater (1-2-3) e dar um passo atrás não poderia abrir o espaço para mais castigo no corpo e na cabeça com melhor posição para escapar das bombas de Ríos?

Bem, o que é necessário agora e preparar o medalhista de prata para o confronto por título mundial que pode chegar até mesmo em setembro, dependendo do que a FIB decidirá já que as negociações para o terceiro Canelo-GGG estão muito avançadas. Ou Esquiva aguardará por Golovkin - a peleja com Álvarez será ou seria nos super médios - ou lhe será designado um adversário da lista na qual ele é o número um. Parece-me que a insistente lembrança do nome do japonês Ryota Murata (16-3) esbarra na sua condição de retirado dos ringues. Somente uma quantia vultuosa o fará voltar. Quem Bob Arum não quer de jeito nenhum é o mexicano Jaime Munguia (39-0).

São Paulo voltou a ser a capital brasileira do Boxe.

Depois de ter passado por Guarulhos, Sorocaba e Belém, a maior cidade do país recebeu a chave da capital brasileira do Boxe com o evento da Boxing For You. O bem cuidado programa me chegou pelo SporTV, mas outras emissoras estavam sendo anunciadas como possíveis transmissoras. A lamentar a falta de mais programações pugilísticas no território nacional.

Outras quatro lutas foram realizadas. Na semifinal, a campeã brasileira das super galos, Lila Furtado (7-0), conquistou o título latino do Conselho Mundial de Boxe (CMB). A vitória foi clara e unânime. A oponente foi a argentina Paola Benavidez (8-6-3). Uma veterana que pouco apresentou diante da intensidade da brasileira.

As papeletas foram: 99-90 (2) e 98-91 (o que marcou o comentarista Daniel Fucs). Anotei 97-92 para a vencedora. Uma incompreensível falta foi marcada no quinto round contra a Benevidez. Clinchar é recurso de defesa. Foi muito rigoroso o mediador Éverton Moreira.

Quando parou de pressionar, de tomar a iniciativa e golpear, Lila acabou recebendo bons golpes. Embora valha a excelente observação (outra delas!!! Benavidez foi a mais experiente que Furtado encarou) de Fucs, o resultado deve ser encarado como mais um degrau na subida nos rankings continentais. É bom que os pugilistas tenham sonhos e até planos para serem campeões mundiais. Contudo, temos que olhar a relação das lutadoras da divisão super galo para lembrar que Lila ainda não está no patamar das mais destacadas ali colocadas.

Outras preliminares na Arena de Lutas (SP).

Super médios - Marcos Vinícius Rodrigues de Barros (1-0) KO3 Miqueas de Souza (0-1)

O vencedor é sobrinho do ex-campeão brasileiro dos meio-pesados, Laudelino de Barros. Passou aperto nos dois capítulos iniciais. Acabou conectando boas sequências num exausto Miqueas. A queda evoluiu para o nocaute. Os dois merecem outras oportunidades porque fizeram boa luta, mas é preciso melhor condição física.

Médios ligeiros - Arnaldo Pinto (1-0) W4 Felipe Bastos (0-1)

Combate emotivo com alternativas. Ambos merecem novas chances já que colocaram nos calcanhares seus rivais. Vale a observação que fiz acima: melhores condições físicas só farão ressaltar suas linhas e pegadas. A decisão foi unânime. Eu fui a análise discordante. Os três juízes e o comentarista Daniel Fucs marcaram 39-37. Vi empate em 38-38. Acontece...

Leves - Eduardo Costa do Nascimento (8-1) W6 Alan Sena (1-1)

A falta de mais eventos pugilísticos deve ter sido a causa para que os treinadores do Coliseu Center tenham aceitado colocar um novato diante do campeão brasileiro dos super penas e classificado em ranking latino-americano. O resultado, aparentemente, era o esperado. Eduardo "Pará" tem excelente linha. Foi surpreendido no começo pela agressividade de Sena, mas no final acabou sobrando. Principalmente na parte física.

Os escores foram 58-56 (2) e 56-58. Decisão dividida. Acontece... Fucs anotou o mesmo 58-56 e eu 59-55.

Agora se apresentando nos leves, a pergunta a se fazer é: Pará vai seguir nessa divisão? Precisa de mais combates antes de partir para o cinturão latino.

Foto: On Board Sports