Bivol venceu Ramírez na decepção do ano

07/11/2022
Jorge Luiz Tourinho

Imagem: CBS Sports 

6 de novembro de 2022


Os ingredientes para confeccionar a Luta do Ano estavam na mesa. De um lado, o sólido campeão invicto Dmitry Bivol da WBA. De outro, o ex-campeão dos super médios da WBO e vencedor por nocaute das cinco lutas que fez como meio-pesado, o também invicto Gilberto “Zurdo” Ramírez. O palco foi uma arena em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, que a Matchroom Boxing conseguiu extrair do governo local junto com polpuda verba para a realização do mega evento.

Vale aqui a reflexão sobre a atitude que devem – ou deveriam – ter aqueles que se candidatam a disputa de título. Tem que mostrar, dentro do ringue, o desejo de manter ou conquistar o cinturão que está em jogo. Foi o que ocorreu no combate entre Chantelle Cameron e Jessica McCaskill. Ambas buscaram a vitória com tudo o que dispunham.

No cotejo que valeu o cinto da WBA, vimos o campeão Dmitry Bivol (21-0) se movimentar para fugir das poucas cargas de seu oponente e, com grande conhecimento das regras, conectar alguns golpes para sair dos assaltos com o 10-9. Em nenhum momento buscou o triunfo pela via do sono. De Ramírez (44-1), esperava, pelo menos, que se portasse como quase todo boxeador mexicano: pressionando e partindo para tentar vencer. Não, limitou-se a jogar sem se arriscar a perder antes dos 12 rounds.

Quase patética foi a reação daquele que, no córner do Zurdo, parecia ser seu treinador principal. No último intervalo apareceu na telinha dos canais ESPN berrando e gesticulando sabe-se lá o quê. Em 11 episódios, pouco fez para nocautear. Iria fazê-lo no derradeiro tempo? Claro que não fez. Agora vou revelar um preconceito. Técnicos de Boxe tem que ter os cabelos brancos. Ou que os pintem se sentem vergonha da idade. Faltou um velho preparador na esquina de Ramírez que fosse respeitado para mandá-lo ir para dentro e buscar o triunfo.

A decisão foi clara e unânime. Os escores foram: 118-110 e 117-111 duas vezes. Esta última marcação foi também a minha. O meu ídolo e comentarista Servílio de Oliveira anotou 120-108. Bivol segue como o melhor meio pesado do planeta. O mundo do Boxe aguarda um embate com o também invicto Artur Beterbiev (18-0, 18 KO). Ramírez deverá vencer alguns confrontos para ter nova chance. A menos que Oscar De La Hoya dê ordem a algum organismo desses.


As preliminares que assisti, seguem abaixo.

Super moscas – Khalid Yafai (27-1) W10 Jerald Paclar (16-6-3).



Trabalhou muito o favorito Yafai para sair como vencedor. Recuperou-se de uma queda no primeiro assalto para ir domando a fera filipina. Se foi contratado para que Yafai saisse da inatividade com triunfo retumbante, quase provocou a zebra. Exibiu a combatividade que faltou ao Zurdo Ramírez. Entendi ter se tratado de decisão unânime, mas não ouvi o resultado. Marquei 95-94 e Servílio 97-93.


Super leves – John Lawrence Ordonio (8-4-1) W4 Majid Al Naqbi (7-1).


O perdedor é árabe e era o favorito. Contudo, Ordonio acertou os melhores golpes e saiu com a vitória fácil. É meio desengonçado, mas é raçudo e aguerrido além de valente. Al Naqbi talvez não tenha adversários de melhor nível. Seu cartel acabou sendo enganoso. As papeletas foram: 40-36 (2) e 39-37 que foi o que anotei.


Título WBC Internacional mosca – Galal Yafai (3-0) W10 Gohan Rodríguez (12-2-1).


O campeão foi medalhista olímpico e, por isso, aceito como desafiante a esse cinturão logo na estreia. É muito bom boxeador! Teve outro novato pela frente que lhe exigiu esforço e trabalho. Não consegui ouvir, de novo, o locutor oficial. Parece-me que a decisão foi dividida com 96-93, 96-95 e 97-93. Anotei 98-92 para o mais novo dos Yafai.


Título IBF super pena – Shavkatozhon Rakhimov (17-0-1) TKO9 Zelfa Barrett (28-2).


Barrett foi o substituto de penúltima hora de Joe Cordina e fez boa luta até ser atingido no nono capítulo. Rakhimov mostrou ser um duro e tenaz lutador. Ambos se empenharam a fundo para saírem com a faixa que estava vaga.


Títulos mundiais super leves – Chantelle Cameron (17-0) W10 Jessica McCaskill (12-3).


Dona de belíssima linha e boa movimentação, Cameron unificou os cinturões WBA, WBC, IBF, WBO e IBO. Para mim, domínio quase que total da britânica. Pena que a intensidade delas não entusiasmaram os artistas da final. Os juízes viram: 97-93 e 96-94 (2). Esses dois viram outra luta que Servilio e eu. Marcamos, respectivamente, 98-92 e 99-91.