A TV e o Boxe

19/07/2020

Por Jorge Luiz Tourinho

Ainda nos anos 90 a poderosa Rede Globo comprou os direitos de transmissão dos principais eventos pugilísticos norte-americanos. Obteve grande audiência com o excelente comentarista Sidnei dal Rovere, apesar dos locutores que vinham do futebol. Nocauteou a rival Bandeirantes e, com o ocaso do ídolo Mike Tyson, parou de exibir as noitadas da terra do Tio Sam. A alegação que chegou a nós, meros assíduos telespectadores, foram problemas na área comercial.

Desde então, todos aqueles que gostam de boxe torciam para que a TV, aberta ou por assinatura, retomasse o mesmo espaço para a Nobre Arte. Muitos dirigentes se empenharam e a eles agradeço pela sua atuação e empenho. Contudo, os executivos da TV brasileira parecem pouco se importar com os destinos do boxe nacional. Deixam passar somente grandes programas com boxeadores consagrados que fazem história.

Poucos são os programas realizados no Brasil transmitidos pela Sportv e pela Band Sports. Não tem a desejada regularidade para alavancar o profissionalismo. Sérgio Batarelli tem sido o único a vencer as barreiras e, talvez, os preconceitos com o bom Boxing For You. As agora gêmeas do grupo Disney, ESPN e FOX Sports, seguem o exemplo das emissoras citadas e se limitam a veicular imagens das grades de suas respectivas matrizes.

Caso aparte é o do canal Woohoo que tem passado muitas horas dos esportes de combate de noitadas brasileiras. Seu destaque são os campeonatos de MMA da empresa do famoso ex-lutador de Jiu-Jitsu Wallid Ismail. O problema que vejo é a confusão feita com o boxe de verdade e uma modalidade queleva o nome de Beach Boxing Tournament.

Sábado atendi o chamado do grande jornalista Eduardo Ohata, feito por uma rede social, e liguei a televisão na ESPN-Brasil. O combate de fundo foi válido por um inexpressivo título continental europeu WBA ou coisa parecida. Apresentado como favorito e aspirante a melhor classificação nos rankings mundiais, o alemão Agit Kabayel venceu por pontos ao grego Evgenios Lazaridis numa luta apenas mediana. Não se pode imaginar que ele possa subir ao ringue com algum expoente da divisão peso pesado. Falta-lhe explosão e continuidade nos golpes.

Outra esperança dos promotores germânicos, Peter Kadiru, quase nada fez diante do veteranoEugen Buchmmueller que perdeu por TKO - abandono por deslocamento de clavícula. O que esperava de um rapagão de 24 anos invicto em 7 lutas e com 109 Kg era que fosse pra cima e esbordoasse com vontade o oponente que se apresentou. Ciscou, gingou, fintou e aplicou meia dúzia de jabs e saiu da Arena de Magdeburg como decepção.

A outra peleja foi exibida incompleta. Nina Meinke e Edina Kiss trocaram bons golpes na única luta que teve equivalência. Triunfo por pontos da primeira. Infeliz e amentavelmente, preciso registrar que o respeito aos seus assistentes deve ser uma tônica para qualquer emissora, grande ou pequena. A transmissão feita na noite de ontem pela ESPN-Brasil foi desrespeitosa para com quem queria assistir o programa vindo da Alemanha. Cheia de intervalos que não eram para faturar. Eram chamadas intermináveis para a programação dela, até em duplicata na mesma sequência. Ou seja, deixaram de mostrar os combates razão de ser do tal Knock Out ESPN.

Para completar o desastre, o competente, estudioso, educado e conhecedor de pugilismo Eduardo Ohata teve sua atenção distraída pelo locutor Cledi Oliveira com inacreditáveis comentários e perguntas do tipo: "Ohata, quem foi melhor: Pelé ou Maradona? Ohata, você gosta da Cássia Kiss?". Caramba, alguém tem que chegar perto desse cidadão e dizer-lhe que o comentarista de boxe deve prestar atenção para marcar a papeleta não oficial e informar à assistência o que viu. Boxe é diferente do Beisebol.

Não poderia encerrar sem dar a minha opinião sobre a posição de Tyson na história. 1 - Joe Louis; 2 - Rocky Marciano; 3 - Mike Tyson; 4 - Muhammad Ali; 5 - Lennox Lewis. Sinceramente, Holyfield não apareceria nos dez primeiros. Quem pensam os leitores?