A Besta-Fera que veio do Leste, outros craques e seus caminhos

21/06/2022

Jorge Luiz Tourinho

21 de junho de 2022

Dezoito nocautes em dezoito lutas! Sete delas válidas por títulos mundiais! É o cartel de Artur Beterbiev (18-0), agora campeão dos meio-pesados do Conselho Mundial de Boxe (CMB), da Federação Internacional de Boxe (FIB) e da Organização Mundial de Boxe (OMB). A se lamentar estar o canadense de origem russa já com 37 anos. Sendo um animal batendo e apanhando, Beterbiev poderia estender seu domínio para um lugar bem mais alto.

Seu categórico massacre sobre Joe Smith Jr. (28-4), o então dono do cinturão da OMB, mostrou um demolidor de muito boa linha que alternou trabalho na cabeça e no corpo. Facilitou sua tarefa a atuação de kamikase do perdedor que, praticamente, se apresentou para a derrota pela via rápida. Em nenhum momento, tive dúvida que o cotejo acabaria cedo como aconteceu. Uma queda no primeiro assalto e mais duas no segundo levaram o árbitro Harvey Dock a encerrar o combate quando o americano cambaleou depois de levantar-se e ser novamente castigado. Acho que não restou dúvida sobre o momento certo de parar a disputa. Ao contrário da luta de Jonhatan Cardoso que analisarei abaixo.

O que queriam Smith e seu entorno? Derrubar a fera e acabar com sua invencibilidade? O caminho para isso seria jogar girando, fugindo para os dois lados e metendo a mão quando possível. Trocar pancadas com a Besta que veio do Leste foi estupidez rematada. Seu processo é simples e eficaz. Toma o centro do ringue e busca golpear. Recebe bombas, mas as assimila bem. Quero vê-lo com alguém que gire e tente mantê-lo na distância. Talvez Dmitry Bivol (20-0) consiga isso? No momento, não. Ele está acertando uma super luta com Gilberto Ramírez (44-0) promovida pela Golden Boy. Beterbiev é manejado por Bob Arum...

Devin Haney (28-0) unificou os quatro cintos dos leves das maiores organizações e se inscreveu na história como o mais jovem boxeador a fazê-lo. Tem apenas 23 anos e já garantiu indicações para o Hall da Fama quando pendurar as luvas. Havia - ou há - uma cláusula de revanche imediata com George Kambosos Jr (20-1) o frustrado ex-campeão AMB, FIB e OMB. Contudo, Haney já falou que poderá subir de categoria caso a revanche não tenha a quantia desejada por ele.

Esse combate foi no sábado 4 de junho em Melboune, Austrália. O palco estava montado para que Kambosos saísse com as quatro faixas. Foi para a caçada, mas não esperavam que Haney desse um show de movimentação e esquivas e mantivesse o australiano na longa distância. A maior pegada do perdedor não marcou presença e a decisão foi unânime. Dois juízes deram 116-112 e o outro 118-110. Marquei 115-113 e o comentarista Servílio de Oliveira 116-112 para Kambosos Jr.

A luta que o mundo quer ver é Haney contra Gervonta Davis (27-0). O fim do contrato com a empresa de Floyd Mayweather poderá aproximar Davis do entorno de Haney. Quem sabe? Essa será uma super luta!

No mesmo dia 4 de junho, mas em Mineápolis (EUA), Stephen Fulton Jr (21-0) triunfou com autoridade sobre o valente Danny Roman (29-4-1). Manteve os títulos CMB e OMB dos super galos de forma indiscutível. Embora tenham feito uma grande luta, as vantagens de Fulton foram claras e marcantes. Um 119-109 e dois 120-108, ambas exageradas. Vi Roman vencer quatro tempos: 116-112. O extraordinário comentarista Eduardo Ohata anotou 118-110.

Será que os apoderados do campeão o levarão a unificar cinturões? Ou também ameaçarão subir de peso para buscar bolsas mais polpudas?

Na sexta-feira 17 de junho, no Panamá, a maior revelação brasileira, Jonhatan Cardoso

(14-1) foi derrotado por Juan Huertas (15-3-1). Em jogo, estava o título Latino OMB dos leves. Cardoso era considerado favorito até para alguns panamenhos, mas pareceu-me ter entrado frio e recebeu uma bomba na mandíbula que o fez bambear. O mediador Ivan Ballesteros sem pestanejar decretou o TKO1.

Concordo com o juiz do Conselho Nacional de Boxe (CNB), Bernardo Soares. Era uma disputa de título. Que deixasse Cardoso cair por cima das cordas e fizesse a contagem do knockdown. O brasileiro mostraria se estava em condições de seguir ou não. Enfim, Jonhatan tem muitas qualidades e poderá dar a volta por cima.    


Foto: DAZN